Olhando para as eleições turcas, que permitiram ao ditador Erdogan recuperar a maioria absoluta perdida em junho, será inevitável que passos & Cª pensem ser esse o seu caminho: fazer tantas eleições quantas as necessárias até garantirem a reconquista do poder absoluto.
É certo que, a exemplo de Erdogan, eles já chegaram às eleições de 4 de outubro com as televisões e os jornais alinhados com as suas posições e a denegrirem sistematicamente o principal adversário, mas ainda vai uma certa diferença entre os brandos costumes lusos e a capacidade criptofascizante do regime turco em conseguir mobilizar as camadas mais rurais da população para contrariar a oposição da que, nas cidades aspira a um cosmopolitismo moderno, liberto do fanatismo religioso do ditador.
Daí que novas eleições talvez significassem uma surpresa muito desagradável para a direita porque se há coisa que o imaginário coletivo capta com grande facilidade é a perda de empatia que os vencedores de ontem ostentam, quando subitamente despojados dessa áurea. E, dia após dia, semana após semana, António Costa vai sobressaindo por entre a histeria de uns e as lacrimosas sentenças de outros, afirmando-se como o único político capaz de personificar um novo rumo para o país. E, se o eleitorado estava desejoso de alternativa, mesmo que parte dele se mostrasse temeroso o bastante para se continuar a autoflagelar, haverá mais quem agora aposte em experimentar a prometida solução, que parecia impossível de aparecer.
Mas as ilusões da direita a respeito de uma imitação tosca dos métodos “democráticos” turcos não tardarão a diluir-se à medida que a clique de Erdogan sentir que, apesar da aparente vitória, já viu destapada a caixa de Pandora, que lhe trará novos sobressaltos. Não é verdadeira a regra segundo a qual, cada rio, antes de secar, ainda conhece um derradeiro fluxo? Erdogan e os seus não querem nem sequer lembrar-se de que isso é inevitável e já são passado numa Turquia ansiosa por deixar de ser aquilo que a ditadura tem querido que seja...
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