Eu detesto medricas e hipócritas, sem esquecer a aversão que tenho a quem se revela biltre no seu todo. É por isso mesmo que sinto um enorme alívio por ver pelas costas os governos de passos coelho: estes últimos quatro anos ainda se revelaram mais insuportáveis do que os vividos quando cavaco silva fora primeiro-ministro. Julgáramos, então, ter conhecido o que de pior poderíamos esperar de uma suposta “direita democrática” no poder. Concluímos entretanto o quanto podíamos estar enganados!
Esta gente que desapareceu do nosso horizonte governativo - subsistirão os seus uivos e latidos na noite escura onde se foram acoitar! - era medricas perante o futuro. Incapaz de nele encontrar faróis, que a orientassem para um qualquer rumo, apostou na salazarenta ideia de sermos poupadinhos (não gastando “acima das nossas capacidades”), honradinhos (pagando sempre as nossas dívidas mesmo que à custa do abandono dos apoios sociais aos mais desvalidos) e tementes da trilogia «Deus, Pátria e Autoridade».
Um Deus, que nada tinha a ver com o do Papa Francisco, porque intolerante para quem lhe desrespeitasse os dogmas, seja em torno do aborto, da adoção por casais do mesmo sexo ou da conceção assistida para as mães solteiras.
Uma Pátria, que só lhes permanecia nos recônditos do cérebro como resquícios da ideologia fascista, porque nunca se viu governo tão submisso a quem, de fora, lhe ia dando as orientações para serem cumpridas.
Uma Autoridade assente num chefe medíocre, que valendo-se da sua maioria parlamentar nem sequer concertava com o parceiro de coligação as decisões casuísticas, que ia tomando.
Era preciso reduzir a despesa do Estado? Pois que se condenassem à fome os que classificou como «peste grisalha».
Não havia emprego para os jovens saídos das universidades? Pois que fizessem as malas e fossem procura-lo onde ele é apenas uma possibilidade cada vez mais difícil.
Gastava-se muito na investigação e no conhecimento sem haver garantias de retorno imediato? Pois que quase se destruísse toda a notável herança deixada por Mariano Gago!
Sem uma ideia de futuro, composta por medíocres que se limitavam a cumprir as ordens do chefe, as equipas ministeriais do XIX e XX governos foram o exemplo mais lapidar de gente hipócrita, capaz de criar uma novilíngua para mentir com todos os dentes e aparentar, a cada instante, dizer o exato oposto do que ia sendo constatado nos indicadores económicos e sociais.
Mas o pior ainda está por descobrir: se se verificar natureza da perseguição tenaz do ministério público contra José Sócrates. Não só na forma odiosa como o quis inculpar na praça pública, mas sobretudo na criteriosa escolha do calendário para ir minuciosamente criando autênticas cortinas de fumo para esconder a argumentação incontestável de António Costa desde que chegou à liderança do Partido Socialista.
Não me admiraria nada que se comprovassem os comportamentos crapulosos de um conjunto de altas figuras do Estado em conluio para impedirem a esquerda de chegar ao Poder.
É, pois, jubilatório este momento em que assisto à tomada de posse de um governo confiante nas suas capacidades e competências para dar aos portugueses o direito a terem um esperançoso futuro.
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