No almoço em que centenas de apoiantes o quiseram homenagear, José Sócrates disse algo que tem-se revelado particularmente evidente nas últimas semanas: "O sr. presidente teve tanto trabalho a pôr a direita no poder em 2011 que, agora, lhe está a custar tirá-la de lá!”
Quando ouvi tal frase logo me lembrei de uma autarca assumidamente segurista que, na semana passada, ainda veio para um plenário de António Costa com militantes reclamar uma reflexão sobre a «derrota» nas recentes eleições legislativas.
Na altura pedi a palavra para repetir o que aqui tenho reiteradamente defendido: nem sequer na noite das eleições aceitei a tese da vitória da direita, por muito que ela tenha sido milhentas vezes repetida.
A derrota do PàF foi tão óbvia que, além de perder a maioria absoluta, já evoluiu para a exigência de novas eleições por parte de quem as dizia ter ganho.
Mas o que, na altura, não pude desenvolver foi que teria sido impossível a qualquer outro líder socialista um resultado diferente, porque nunca poderia ter decisão sobre os calendários. Algo que cavaco e passos coelho manobraram de acordo com os seus exclusivos interesses.
Meses a fio a campanha da direita preparou as mentiras que se começam a desmascarar como é o caso da sobretaxa do IRS, ou as manipulações destinadas a «vender» ao eleitorado a imagem cor-de-rosa de um país que estaria a crescer, a exportar mais e a diminuir o desemprego. E concretizando, entretanto, os negócios em torno do que ainda restava por privatizar como é o caso da inacreditável venda da TAP, que se conclui agora traduzir-se numa transferência para privados dos eventuais lucros, mas a nacionalização dos prejuízos se tudo correr mal.
Ao contrário do que ainda querem acreditar alguns setores cada vez mais minoritários do PS, como os representados por aquela autarca, estou convicto de que, com António José Seguro o resultado do PS ficaria abaixo do verificado.
É verdade que houve alguma inépcia na questão dos cartazes, mas. até num excelente trunfo de campanha como o foi o estudo macroeconómico apresentado no verão, os eficientes marketeiros da direita mereceram quanto ganharam ao desqualificá-lo com deturpações do que nele estava previsto.
Poderia António Costa ter dado a volta à situação? Respondo com outra pergunta: como teria sido possível consegui-lo perante comunicação social totalmente apostada em silencia-lo ou denegri-lo?
Mas a maior estratégia da direita teve José Sócrates como vítima. Porque a coincidência da data da sua detenção e de outros atos posteriores do ministério público e do juíz de instrução tiveram sempre por objetivo condicionar, se não mesmo retirar impacto às iniciativas pré-eleitorais do PS.
Agora que toda a estratégia falhou e a esquerda está em vias de garantir uma governabilidade completamente diferente, a farsa em torno da inexistente acusação a José Sócrates já pode cair. Faltando apenas devolver-lhe a credibilidade seriamente ofendida por instituições judiciais e pasquins, que serviram de ferramentas a uma direita capaz dos mais crapulosos meios para atingir os seus fins.
O grande apoio hoje sentido por José Sócrates na antiga FIL só foi o primeiro dia do resto da sua longa vida onde muito dele se voltará a esperar...
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