Cinquenta e um dias depois da derrota eleitoral da direita, o Partido Socialista conseguiu o mais fácil: ter António Costa a liderar o XXI Governo Constitucional.
Começa agora o mais difícil. Mas também o mais entusiasmante, porque significa olhar para a realidade e transformá-la no sentido almejado por quem votou a 4 de outubro num dos quatro partidos da nova maioria parlamentar.
Olhando para o elenco ministerial só podemos ter confiança no sucesso desta aposta, porque a sua qualidade não tem qualquer paralelo com a gente medíocre, que abandona agora funções sem suscitar outra reação a quem desgovernou senão um profundo suspiro de alívio. Até josé gomes ferreira teve de reconhecer na SIC aquele inquestionável somatório de competências, abrindo, a contragosto, a possibilidade de se voltar a enganar nos seus azarados palpites (ele próprio recordou o fracasso da tese em como cavaco jamais aceitaria António Costa como primeiro-ministro!) e vir a reconhecer o eventual sucesso da solução agora iniciada.
Ao conseguir um desempenho de grande mérito e eficácia, o novo governo irá condenar a direita a uma longa e merecida travessia no deserto, que talvez lhe sirva para se reinventar à luz do que o pensamento académico nas áreas económicas já vem progressivamente demonstrando, mas ela ainda não interiorizou: o fracasso das receitas neoliberais em que é dada aos mercados a máxima liberdade e ao Estado um papel ínfimo na criação de condições de crescimento económico.
Se a crise financeira de 2008 aproveitou essencialmente a quem a tinha originado já é mais do que tempo de pôr fim ao esbulho da classe média e à condenação à morte dos mais pobres, voltando a criar políticas orientadas para quem elas deveriam ser sempre prioritárias: as pessoas.
António Costa mostrou uma enorme sagacidade em todo este processo: além de suportar estoicamente todos os insultos de que foi objeto, manteve a serenidade de quem se sabe em sintonia com os ventos soprados pela atual dinâmica histórica. Deixando a direita libertar todo o seu fel até nele próprio se engasgar, foi com pose de estadista, que se reuniu com o inquilino de Belém e dele acabou de receber a anuência para avançar para a governabilidade.
E se é verdadeira a diferença entre ser um excelente autarca e um primeiro-ministro, também não se pode ignorar existirem países europeus com menos habitantes do que a capital portuguesa. Por isso mesmo faz algum sentido invocar o sucesso de António Costa na capital para confiar na sua réplica à frente do país.
Será esse o maior medo da direita: se governação do PS e dos partidos que o apoiam der às pessoas uma qualidade de vida e de esperança no futuro como tinham visto esvair-se nestes quatro anos, passos coelho e paulo portas serão, em definitivo, pequenos nomes em rodapé na História futura sobre estes anos de brasa...
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