Há quarenta anos estava embarcado como Praticante de Oficial Maquinista no petroleiro «Dondo», quando entrei Tejo acima e vi aviões a sobrevoarem a capital.
“O que está a acontecer?”, interrogavam-se os que olhavam para a capital a partir do convés do navio. E logo os que se precipitaram para as telefonias trouxeram notícia da insurreição em curso.
Dispensado pelo Chefe fui para casa para acompanhar o que se passaria nas horas seguintes, sem querer aceitar a iminência do fim da festa.
Na época, ainda com dezanove anos, eram as ideias revolucionárias as que me seduziam, crendo no realismo de se pedir o impossível. Os acontecimentos viriam a demonstrar que, em certas alturas, os impossíveis são isso mesmo!
Hoje a direita propõe-se celebrar a data na Assembleia da República, mas sem qualquer fundamento: na época ela estava acossada ou em fuga para o Brasil ou para Espanha. Quem deu à Revolução de Abril as condições para se adequar ao formato das democracias europeias foi a esquerda militar conotada já então, ou futuramente, com o Partido Socialista. É por isso que se algum Partido teria legitimidade para, hoje, celebrar a derrota da esquerda radical em 25 de novembro de 1975, seria o PS, que sabe, porém, quanto mais importa pensar no futuro do que fixar-se em fantasmas do passado.
É nesse porvir que António Costa promete apostar mediante uma transformação progressista da organização política e social da sociedade portuguesa. E, como Alfredo Barroso, escrevia há já algumas semanas, o almejado sucesso desta nova experiência histórica poderá ter influência além-fronteiras, porque as forças políticas social-democratas e socialistas carecem de um exemplo de sucesso capaz de lhe abrir as portas para outra estratégia, que não seja a de servirem de muleta às falhadas receitas da direita.
Demonstrar a compatibilidade de uma governação mais equitativa e com crescimento económico poderá lançar outros partidos europeus para o rompimento definitivo com as trapaças ideológicas instituídas por blair e por schröder.
E até podemos arriscar que o início de algo novo em Portugal possa extravasar a própria escala continental: a derrota do kirchnerismo na Argentina revela quão frágeis são as soluções populistas de alguma esquerda latino-americana, que precisa de substância ideológica mais consistente para aprofundar um processo transformador de que tanto carecem os seus milhões de desvalidos.
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