O que tem sido delicioso de assistir nestes dias é a capacidade de António Costa para desconcertar as estratégias da direita.
Hoje, tão-só passos acabou a sua intervenção inicial no parlamento, e logo hugo soares pediu a listagem dos inscritos nas intervenções para perguntas a fim de aferir a altura em que as bancadas minoritárias poderiam assestar melhor as miras sobre António Costa.
Não é que, depois, o tivessem poupado, mas encontraram sempre um muro impenetrável por onde nunca conseguiram verdadeiramente atingir o seu alvo.
Há muito tempo que António Costa se vem revelando um excelente estratega, prevendo qual será o movimento seguinte do adversário e antecipando-o com grande eficácia. A única altura em que essa capacidade de antecipação não vingou foi quando apostou na apresentação de um rigoroso estudo macroeconómico para justificar o programa do PS, certo de não existir na direita quem pudesse realizar um equivalente de qualidade aproximada.
Onde António Costa se enganou nesse momento - que se revelou determinante para não conseguir o resultado eleitoral, que merecia! - foi no facto de, logo de seguida ninguém mais parecer interessado no programa da direita ou sequer no balanço das malfeitorias por ela praticadas nos quatro anos anteriores. Habilidade reconhecidamente bem sucedida dos marketeers da direita, que conseguiram pôr a grande maioria dos comentadores televisivos a ver naquele estudo aquilo que não estava lá, e no programa uma caricatura do que nele se propunha.
A lição terá sido bem aprendida: por isso mesmo, durante as negociações com os três partidos com que viria a assinar o acordo, pouco dele transpirou para desespero desses mesmos comentadores e dos políticos de direita, que deles se servem como altifalantes.
Azar o da direita, que chegou à discussão do seu programa de governo sem conseguir vislumbrar seriamente o conteúdo do que lhe servirá de alternativa. Lançam bitaites do tipo: «onde irão buscar dinheiro para tanta promessa?» e, porque nunca teriam imaginação nem competência para tal, repetem até à náusea a impossibilidade disso ser possível.
A decisão de António Costa em só falar hoje, no segundo dia da discussão do programa de governo, foi mais uma machadada na estratégia pensada pelos grupos parlamentares do PSD e do CDS para criarem a zizania pretendida.
Impassível, ele ia assistindo às provocações, até aos insultos, com que alguns dos provocadores o quiseram exasperar. Devolvendo-os à sua impotente raiva.
Os deputados da direita irão vender cara a pele da sua derrota eleitoral em 4 de outubro (porque, se tivesse sido uma vitória, estariam agora a garantir a desgovernação!), mas conhecem muito mal o futuro primeiro-ministro. Ele tem a capacidade para reunir as melhores competências disponíveis para cumprir o programa com que se irá comprometer para os próximos quatro anos. E a esquerda no seu todo sairá superlativamente vitoriosa se reduzir a direita à mera soma dos seus rancores...
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