Por estes dias não faltam doutas vozes a preverem pragas do Egito se acaso o país vier a ser governado de acordo com a sua maioria parlamentar. Como a forma de olharem para a economia não consegue libertar-se das rígidas palas do pensamento único, que quiseram impor, já adivinham os mercados a soprarem furacões e as agências de rating a lançarem nuvens de gafanhotos…
Muito sensatamente, e com a maior das tranquilidades, as direções dos quatro partidos à esquerda vão concluindo o seu acordo sem dar ensejo à imprensa e aos adversários políticos de lhe conhecerem os detalhes, que só prometem ser desvendados no momento certo: o do efetivo derrube deste aborto de governo!
Sejamos, então, um pouco mais imaginativos e tracemos aquele que poderá ser o cenário político para daqui a um ano: existirá, então, um governo estável, apoiado num parlamento onde, batalha após batalha, a direita terá acumulando sucessivas derrotas.
Os reformados terão recuperado rendimento, os serviços de saúde e as escolas públicas terão sido revalorizadas no seu papel apesar dos protestos dos que têm interesses nas empresas privadas de tais áreas. A economia estará a crescer, o desemprego efetivamente a baixar e o consumo a mostrar um renovado dinamismo.
Na cultura e na investigação científica já se notarão as diferenças em relação a quatro anos de autêntica terra queimada.
Por isso mesmo nos partidos de direita já estarão a verificar-se os fenómenos de autofagia, próprios de quem não sabe sobreviver sem a posse do tal «pote».
Ouviremos então a notícia de passos coelho já ter aceite lugar na administração da empresa de um destes seus amigos, que acabaram de assinar um manifesto de confesso susto perante a iminência de verem o céu a cair-lhes sobre as preconceituosas mentes, enquanto do lado do CDS, andaremos a acompanhar a novela entre nuno melo, assunção cristas e joão almeida sobre quem chegará a «presidente da junta».
E que será feito de Assis e seus amigos almoçaristas? Silenciados nos seus rancores, andarão a questionar-se sobre as vantagens, que terão retirado do facto de, num momento crucial para a vida do Partido Socialista, terem aparecido tão ufanos a querer dar fôlego à já titubeante trupe pafista…
Alguns deles até participarão em romagens de saudade à Mealhada, ou quiçá às Caldas, para evocarem melancolicamente os distantes dias em que terão sido efemeramente felizes…
Compreende-se, pois, o afã da direita em virar o bico ao prego e, depois de ter afiançado não querer ficar num governo em gestão já a isso se mostrar disposta. É que toda a bateria de munições, que tem disparado contra a indestrutível dinâmica do campo contrário, tem-se revelado tão parca em resultados como se fosse integralmente constituída de pólvora seca: a iniciativa dos bacocos do chamado «compromisso democrático» juntou umas centenas de tristes, que nem sequer conseguiram ligar os braços entre São Bento e o Rato, quanto mais estendê-los à Lapa e ao Largo do Caldas.
E a sua grande esperança, esse lamentável sujeito que, segundo o “Diário Económico”, terá ido reunir-se com altos dirigentes do PSD para lhes assegurar o apoio ao governo, acaso substituísse António Costa como secretário-geral, parece um general perdido num labirinto onde a saída parece cada vez mais difícil de encontrar…
A contagem decrescente está a avançar e há quem fique em terra a contar as estrelas, que os outros contam alcançar!
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