Uns dias atrás, durante uma ação de campanha para as próximas eleições presidenciais, tive a oportunidade de debater durante um bom bocado com um jovem do PSD, ufano da sua recente participação na Universidade de Verão do seu partido em Castelo de Vide, mas disposto a ouvir argumentação capaz de lhe fazer vacilar as convicções.
O que ele queria saber era como António Costa arranjará dinheiro para cumprir as mais de setenta “medidas simpáticas” inseridas nos acordos com os partidos à sua esquerda.
Valendo-se dos pergaminhos da escola onde está matriculado - o ISCAL - ele afiançava impossível o sucesso das projeções macroeconómicas do PS no futuro governo.
Seja porque não sou suficientemente bom como catequizador, seja porque o potencial prosélito estava firme nas suas convicções, nenhum de nós saiu das suas posições iniciais. Mas, a concluir, perguntei-lhe:
- Imaginemos que nos encontramos aqui mesmo, daqui a um ano, em 6 de novembro de 2016, e já podemos constatar que você não tinha razão: que os acordos com os outros partidos da esquerda foram cumpridos e António Costa prepara-se para acabar o primeiro ano de governo cumprindo os limites impostos pelo Tratado Orçamental! Nessa situação, você dá a mão à palmatória em como se enganou?
- Não! - respondeu-me ele - Se isso for assim poderei sempre dizer que se tratou de um prazo muito curto de execução do programa de governo. Que precisa de ser analisado a um prazo mais alargado!
- Então quanto: daqui a dois? Daqui a quatro anos?
Ele despediu-se sem me dar a resposta, que também dele já não esperava.
Voltei a lembrar-me deste interlocutor ao ler a crónica de Miguel Sousa Tavares no «Expresso» desta semana. Porque se concordo no diagnóstico feito a propósito das causas e consequências do chumbo do PEC IV, e até subscrevo grande parte do que critica ao governo de passos coelho, já estou inteiramente em desacordo quanto ao seu veredito sobre quanto vem sendo feito por António Costa ou Mário Centeno. Muito embora, seja mais do que uma ironia - embora ele pretenda o contrário! - o que diz sobre a sua própria análise: “a política tem subtilezas que não estão ao alcance do comum dos idiotas, como eu, mas que já não escapam a Mário Centeno.”
Se Miguel Sousa Tavares se reconhece, merecidamente, como idiota quem somos nós para o desdizer? Porque a realidade é esta: muitos dos que contestam o programa do futuro governo socialista, ou o fazem por teimosia contra eventuais factos que ponham em xeque os seus argumentos, ou porque não têm a capacidade para entender as oportunidades abertas com um novo rumo político, intimidando-se em demasia com os inevitáveis riscos a contornar no percurso.
Sobre o cronista do semanário de Balsemão ficamos na dúvida: será o seu ódio visceral a tudo quanto signifique Estado, que o leva a atacar António Costa até em questões de carácter, ou é tão-só o medo de ver desmentida a forma de ver o mundo, que deixou cristalizar-se dentro de si?
Sem comentários:
Enviar um comentário