Para além da Web Summit - cujo brilho e importância económica para o país nunca é de mais realçar, a par do engenho e arte de António Costa em tê-la conseguido trazer para Lisboa - as notícias da manhã não trazem outras grandes novidades. É certo que Marcelo continua incomodado com Tancos e adota uma desculpa feia: se os chefes da Casa Civil ou Militar sabiam de alguma coisa do encobrimento - e há motivos para crer que, pelo menos o segundo sabia e por isso se colocou a recato atempadamente antes da borrasca o atingir! - nenhum lhe terá dito o que quer que seja. Como comandante-chefe de uma nave que possa estar à deriva é feio atirar culpas para quem tem por subordinados!
Ora o grande argumento das direitas contra o governo de António Costa têm a ver com uma lógica similar: exigir a um líder de topo, que pague as culpas por quem é seu subordinado. Só que, enquanto Marcelo tinha um vínculo direto com os seus chefes da Casa Civil e Militar, entre o primeiro-ministro e o antigo responsável pela Judiciária Militar a distância hierárquica é muito enviesadamente indireta, com uns quantos elos intermédios. Mas as direitas, cegas no discernimento, pensam mais ou menos assim: se o chefe da Judiciária Militar conhecia esse encobrimento, como o poderia ter escondido do chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa, mesmo que esse não o tenha entendido como tal? Se este reconhecia ter recebido uma esdrúxula informação escrita em que, no máximo, se fala de um «informador», como não teria, apesar de irrelevante, tê-la transmitido ao ex-ministro? E se este, recebendo através de tanta intermediação - e sabe-se como quem conta um conto acrescenta-lhe (ou retira-lhe, se ele for comprometedor!) um ponto, como não a teria transmitido ao primeiro-ministro? Está bem de ver que, mesmo com informações em terceira ou quarta mão, que nada terão indiciado esse encobrimento, as direitas passaram a achar que o primeiro-ministro passava a estar em causa!
Pessoalmente acredito que Azeredo Lopes terá achado tão estapafúrdia a estória de armas que apareciam e reapareciam, que piamente acreditou na possibilidade de nunca ter havido um roubo, como o chegou a asseverar numa Comissão Par(a)lamentar.
A verdade é que as direitas estão sem ideias nem projetos, que possam contrariar as vitórias das esquerdas no ano que vem. Perderem as Europeias, as regionais da Madeira e as legislativas funciona como uma espécie de antecipado horror, só mitigado pela esperança a elas fornecida por Pedro Magalhães há uns dias atrás, quando garantiu que a maioria absoluta do PS ficou comprometida com os incêndios do ano transato. Ao prolongarem a novela de Tancos vivem na esperança dela funcionar como mais um pauzinho a entravar a engrenagem, com precisão de relógio, que devolverá a chefia do próximo governo a António Costa. Usando as Forças Armadas para politiquices indecorosas, julgam alcançar os seus improváveis objetivos.
Vale ainda a pena reter duas outras notícias do dia. A primeira tem a ver com a desonestidade intelectual de Rui Moreira que me fez abrir a boca de espanto ao ouvir-lhe um tremendo disparate, mas também um inaceitável tique populista, ao exigir que se há dinheiro para a Web Summit muito mais deverá haver para a nova ala pediátrica do Hospital de São João.
Compreende-se que o autarca do Porto se roa de inveja por Lisboa estar a viver um evento desta grandeza, e queira ignorar que o investimento nele aplicado tenha um retorno incomparavelmente maior, que beneficia a economia nacional em vertentes, que não se esgotam no seu nível económico. Provinciano na forma de pensar ele ainda não compreendeu que, ao exigir que a Agência Europeia do Medicamento fosse para o Porto e não para Lisboa - que teria razões de sobra para justificar a escolha em detrimento de Amesterdão! - ele foi o culpado-mor de ter privado o país de ser sede de mais uma importante instituição europeia. Ademais, e sobre as crianças a estarem sujeitas a tratamento em contentores, nunca se lhe ouviu uma reclamação sobre tal matéria nos quase cinco anos do governo de Passos Coelho, que nada fez para resolver o assunto.
Conclua-se com existir número crescente de analistas a estranharem a «coincidência» de seis mil hondurenhos terem sido estimulados a integrarem uma caravana a caminho das fronteiras americanas, num percurso equivalente ao de Lisboa até Moscovo, precisamente quando estão a acontecer as eleições norte-americanas para parte do Senado e toda a Câmara dos Representantes. A organização e o timing escolhido deixa sérias reservas sobre este episódio mostrando como multidões podem ser manipuladas eficazmente para criarem factos políticos completamente opostos aos dos seus efetivos interesses.
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