domingo, 18 de novembro de 2018

Ter ou não ter a maioria absoluta é a questão


Na sexta-feira, quando um dos canais televisivos dava conta da sondagem, que apontou para a aproximação do Partido Socialista à maioria absoluta, um camarada, com quem jantava na altura, manifestou o contentamento perante tal hipótese se traduzir em votos no dia das próximas legislativas.
Apesar de militante do partido do governo não sinto um particular entusiasmo com essa possibilidade, porque basta ver a desautorização à ministra da Cultura por uma parte do grupo parlamentar socialista para compreender quão heterogéneo é, nele cabendo quer quem se posiciona mais à esquerda e se sente consonante com a atual maioria parlamentar, quer os que a suportam com enfado por terem as mentes mais formatadas à direita. Porque António Costa tende sempre para a congregação das divergências internas em vez de concretizar a separação das de águas entre quem comunga da sua Visão e quem a vai suportando em silêncio, nada impediria de uma maioria absoluta, alicerçada num par de deputados, pender para um centrão, que, por toda a Europa vem significando o definhamento dos seus promotores em detrimento dos populistas de extrema-direita. Até porque, desde o primeiro minuto, os atuais parceiros da maioria parlamentar cuidariam de se colocar numa oposição tenaz, que acrescidos argumentos dariam a essa direita dentro do PS para se fazer maioritária nas propostas aprovadas no parlamento. Apesar de ser um dos defensores das touradas, Manuel Alegre outra coisa não diz na entrevista dada hoje ao «Diário de Notícias»: a solução política concretizada com sucesso nestes últimos três anos deve prolongar-se por muitos mais.
Desejo, pois que Bloco e CDU mantenham ou subam um pouco mais do patamar dos 7% em que atualmente se situam, de preferência à custa dos 33,8% atribuídos aos dois partidos das direitas ou dos quase oito por centro concentrados nas demais opções contempladas pela amostra. Mas não me iludo com o facto de subsistir, numa ou noutra possibilidade, uma oposição firme dos maiores detentores de riqueza a nível nacional, ansiosos pelo dia em que um qualquer Passos Coelho venha a aliviar-lhes as obrigações fiscais ou a eduzir os direitos dos que trabalham nas suas empresas. Para a maioria dos que se sentem agastados com a existência de um governo de maioria de esquerda em Portugal - que procuram desgastar nas suas televisões e jornais ou financiando centrais de fake news - o ideal seria traduzir a toda a atividade laboral a modalidade imposta pela empresa Operestiva no porto de Setúbal. Ter trabalhadores há anos condenados a comparecerem diariamente numa autêntica praça da jorna e pagar-lhes mal em função da precariedade, que lhes impõem, seria o ideal para os senhores da CIP, da CAP e das demais associações patronais.
O que indigna muitos socialistas é ter-se chegado quase ao final da legislatura e nada se ter alterado nas relações laborais agora denunciadas com a paralisação do porto por onde se escoam os carros produzidos na Autoeuropa.

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