quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Os culpados? Obviamente os que mais têm a ganhar. Ou a evitar perderem!



Muito interessante a entrevista concedida pelo Prof. Boaventura Sousa Santos à edição brasileira do «El Pais» em que explica os acontecimentos atuais à luz de uma leitura, que não ´´e nova, mas continua pertinente: há o dedo imperialista em tudo quanto de mais assustador está a ocorrer no mundo. Independentemente de estar Obama ou Trump na Casa Branca vigora em Washington a expetativa de um inevitável confronto entre os Estados Unidos e a China pela primazia económica a nível mundial. Ora, para enfraquecer os possíveis apoios do outro campo, a CIA esteve ativa no sucesso do Brexit, trabalha para que a União Europeia falhe como projeto político e económico e sabota a convergência criada entre os BRICS. Daí o sucedido nas eleições brasileiras com amplo recurso a fake news.
Quem pense ser esta uma perspetiva exagerada do que ocorre nesta altura não deve esquecer o que Snowden denunciou e que irritou tão violentamente o anterior ocupante do Salão Oval. Na perspetiva dos norte-americanos a parte sul do continente terá de ser recuperada como seu quintal das traseiras, não se repetindo a distração dos primeiros anos deste século com a guerra no Iraque, que possibilitou a formação de governos progressistas na Argentina, na Venezuela, no Brasil, na Bolívia, no Equador e no Chile. E não se pense que as agências secretas ao serviço dessa agenda imperialista se intimidem com os meios: basta pensar como Dominique Strauss-Kahn foi apanhado no caso da camareira um mês depois de, enquanto líder do FMI, propor a substituição do dólar por uma cesta de moedas nos negócios mundiais. Ou como Sddam Hussein ou Kadhafi acabaram depois de proporem a transação de petróleo, respetivamente, com euros ou com uma moeda africana semelhante à europeia. Estejam em causa os interesses dos que querem continuar a manter a sua primazia como superpotência dominante e não há escrúpulos quanto aos recursos a investir.
É por tudo isto que o professor de Coimbra conclui a entrevista com a indicação do rumo a tomar para que o projeto imperialista falhe rotundamente: “A distinção entre esquerda e direita nunca foi tão importante. A esquerda muitas vezes apaixona, mas deixa passar oportunidades de ser outra alternativa de vida. A esquerda não pode ter vergonha de defender o Estado, obviamente democrático e não corrupto. Quem mais vai precisar de saúde pública, de mais educação, não serão as classes médias altas, mas sim aquelas que ganham o salário mínimo. É preciso ter a coragem de aumentar os impostos dos mais ricos. Prejudica o investimento, dizia-se em Portugal. Não foi assim, pelo contrário, aumentou. Há muitas mentiras econômicas. Os maiores mentirosos deste século ganharam os prêmios Nobel de Economia.”

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