Muito justificadamente tenho estado em grande desacordo com Francisco Assis nos últimos anos, apesar de nele ter votado para secretário-geral do PS , quando o contendor era António José Seguro. No entanto sobre as touradas estou 100% de acordo com o que ele escreve hoje num artigo de opinião no «Público». É que, como conclui, no seu texto, condenar as touradas como espetáculo bárbaro, é mais do que um imperativo civilizacional. Trata-se, sobretudo, de humanismo, de sermos melhores do que fomos em tempos felizmente idos:
“A ministra da Cultura tem vindo a ser violentamente atacada pelo simples facto de ter declarado o óbvio: que há coisas que com o passar dos tempos deixam de se colocar no domínio do gosto e passam para um outro patamar, que tem que ver com os valores civilizacionais alcançados.
Na Roma antiga, as lutas dos gladiadores entusiasmavam a populaça, apelavam à representação artística, suscitavam avaliações de ordem estética. Nessa época, esse assunto poderia ser tratado no domínio do gosto. A humanidade, entretanto, evoluiu, e o grau de exigência civilizacional apurou-se. Hoje, nem a ética nem a estética se permitiriam conviver com tal celebração da violência. Por uma razão muito simples: subimos de patamar civilizacional.
Por muito que custe aos defensores das touradas, é isso mesmo que está hoje em causa. Não por acaso, tão degradante espectáculo suscita a repulsa de praticamente todos os povos europeus. E não venham com a conversa fiada de que é a globalização uniformizadora ou a obediência a uma certa normalização comportamental. Não, não é nada disso. É apenas e tão-só, como corajosamente afirmou no Parlamento a ministra da Cultura, uma questão de civilização. E não, não tem apenas que ver com a nossa relação com os animais, tem sobretudo que ver com a relação connosco mesmos. Não se trata de animalismo, trata-se mesmo de humanismo.”
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