quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A trabalho igual não deve corresponder salário igual?


O que se passou esta manhã em Setúbal com uma trintena de fura-greves a porem em causa a luta dos seus colegas estivadores nada tem a ver com a dos enfermeiros, dos professores, dos juízes ou funcionários dos tribunais. E, por isso mesmo, merece uma consideração, que a dos outros profissionais não contempla.
O que está em causa naquele porto da margem sul é a aceitação, ou não, que o direito ao trabalho seja reconhecido, e não avance a uberização pretendida pelas entidades patronais. Para estas dá muito jeito a continuação de uma espécie de praça da jorna onde candidatos sem grandes meios de reivindicação se sujeitem à paga e à falta de direitos inerente a quem se vê, há muito, precarizado. Por isso mesmo um socialista só pode sentir-se incomodado com a inação de um governo que tem dado provas de ambicionar melhores condições de vida a quem delas tem sido excluído pelas mais vis formas de capitalismo selvagem. Mesmo tendo em conta os prejuízos para o país de uma paralisação, que ameaça parar a dinâmica exportadora da Autoeuropa. Quando os patrões se comportam crapulosamente o Estado tem a obrigação de intervir e atirar-lhes com um veemente aviso de Basta!
Quanto às outras lutas, não por acaso conduzidas em quase todos os casos por sindicatos liderados por dirigentes de direita (e Mário Nogueira tem demonstrado sê-lo, quer na vigência deste governo, quer com a passividade adotada para com o anterior!), não se pode ignorar que, para a maioria dos profissionais nelas envolvidos o governo já desbloqueou congelamentos, que lhes permitiu recuperar parte substantiva do que os serventuários da troika lhes haviam imposto. E que é sempre discutível a criação de carreiras diferenciadas em função dos anos de serviço, se o trabalho a eles solicitado é exatamente o mesmo. Ou será que nos esquecemos de um dos principais valores da esquerda, o de a trabalho igual corresponder salário igual?
A maior parte dessas lutas adota uma lógica de criação de castas, que se revelam tão absurdas quanto as que ainda dividem a sociedade indiana. É que a diferenciação dentro das mesmas classes justifica-se em função do acesso a responsabilidades acrescidas para cargos de chefia e de direção para os quais a antiguidade não justifica ser-se mais habilitado. Na realidade dificilmente os anos de experiência poderão melhorar o desempenho dos maus profissionais, por isso mesmo injustamente remunerados em relação a colegas mais novos, que demonstrem um outro tipo de merecimento.

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