sábado, 24 de novembro de 2018

Ainda a questão de ter de subsidiar um espetáculo repugnante


A questão de ter, ou não, de subsidiar uma atividade repugnante - a tourada—com os meus impostos, continua na ordem do dia e só lamento que tantos socialistas ainda defendam o que é uma manifestação passadista e machista, compreensivelmente adorada pelas gentes das direitas, incompreensível, porém, em quem deveria pugnar pelos valores mais progressistas. Ao contrário dos defensores da barbárie, que até gostariam de a fazer aceitar como património cultural reconhecido internacionalmente, muito dificilmente teriam a pretensão satisfeita porque, a nível de quem reconhece práticas tradicionais a preservar, aquele conceito não condiz com o direito de causar sofrimento a animais não-humanos por mero entretenimento.
Trata-se, igualmente, de uma atividade em perda progressiva de espectadores: se no ano transato se registou um ligeiro influxo nessa tendência, os 378 mil rústicos, que pagaram bilhete para a ela assistirem, representaram menos 45% do que os verificados dez anos atrás. A socióloga Paula Sequeiros põe em causa a perenidade dos usos: “as sociedades vão mudando. O costume e a tradição estão sempre a fazer-se e a desfazer-se”.
Compreende-se, pois, a razão porque António Costa viu recusada pela Associação Nacional de Municípios Portugueses a possibilidade de ser transferida para cada autarquia a decisão de autorizar, ou não, os espetáculos taurinos nos respetivos territórios. Sabendo quão volúveis são os entendimentos dos eleitores, nem querem pensar-se responsáveis de tal decisão dado o risco de perderem votos num ou noutro lado desta pugna civilizacional. Mas o primeiro-ministro não evitou dar uma merecida bicada a Carlos César no decorrer das Jornadas Parlamentares em que manifestou implícito desagrado pelo comportamento indecoroso de uma parte do grupo parlamentar.

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