segunda-feira, 5 de novembro de 2018

A complacência injustificada contra excessos policiais


Curiosamente tenho andado a ser contrariado nos argumentos por alguns amigos, que se consideram de esquerda, a propósito da atitude crítica contra alguns comportamentos policiais. Há quem não tenha visto mal nenhum na publicação das fotografias dos três foragidos, capturados em Gondomar, e defenda mão pesada sobre os autores de atos ilícitos numa evidente aproximação ideológica aos adeptos do jagunço brasileiro ou do ex-autarca laranja de Loures.
Diz o ditado que quem não quer ser lobo não lhe veste a pele. Ora esses amigos andam a envergar perigosamente as roupas fascistas, quando dissociam o crime das causas que lhe subjazem: este capitalismo em que se agrava a obscena desigualdade entre ricos e pobres e em que, não só se privam as classes mais baixas de ascenderem socialmente através da educação (daí a justeza das políticas deste governo no sentido de reduzir os custos das famílias com propinas e manuais escolares!), como lhes atira para diante dos olhos os gadgets de uma sociedade de consumo, que ambicionam ter, não importando o que se tenha de fazer para os adquirir.
As cenas lamentáveis dos polícias na tentativa da ocupação das escadarias da Assembleia da República (simbolicamente um golpe de Estado!) ou os sete casos, atualmente, em tribunal sobre comportamentos em que terão exorbitado as suas competências, são elucidativas de como algo vai podre nalgumas esquadras, havendo indícios de nelas se terem infiltrado militantes neonazis. Justifica-se, pois, o reparo de Pedro Bacelar de Vasconcelos quando, dias atrás no «Jornal de Notícias», se insurgia com a exagerada complacência que as forças de segurança merecem dos juízes dos nossos tribunais. Pelas responsabilidades de defesa dos valores republicanos com que se comprometem ao vestir a farda, os polícias que os violam merecem severa punição.
Há quem venha alegar com a falta de condições e de meios, que condiciona a sua atividade, mas não é de estranhar que estas «denúncias» só venham a público quando é o Partido Socialista quem está a governar e depois de um esforço orçamental, que já se concretizou na aquisição de mais de duas centenas de novas viaturas? É que não esqueço da reunião convocada para um Hotel da Costa da Caparica em que um dos principais líderes sindicais, agora tão ativo na contestação ao governo, apelava à votação no seu convidado de honra, esse Passos Coelho, que se preparava para substituir Sócrates à frente do governo. E muito menos as comprometedoras fotografias, que mostram outro desses líderes em amena reunião na sede do PNR...

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