quarta-feira, 28 de novembro de 2018

As falácias que um certo «jornalismo» tenta vender como axiomas incontestáveis


Há uns tempos andei a debater com o atual diretor do «Público» o tipo de informação propiciada pelo jornal, tendo em conta que, como assinante, não me sentia de modo algum identificado com o seu constante enviesamento.  O alibi do meu interlocutor foi o de caber ao jornalismo constituir-se numa espécie de permanente questionador do poder, sem dele reter o que de positivo possa manifestar. Em poucas palavras: caberia ao jornalismo encontrar todos os argumentos possíveis para criticar o governo, escusando-se a dar igual enfoque ao que fosse merecedor de elogio.
Claro que não concordei com a desculpa, mas constato ser argumento que vai fazendo caminho noutros jornais com pretensões a serem lidos como «sérios», «objetivos» e deontologicamente «irrepreensíveis». E claro que este súbito escrúpulo surgiu com o atual governo, pois não se notou a sua existência enquanto perdurou o anterior.
O artigo de opinião de Vítor Matos, no «Expresso» de ontem, confirma a tendência, ao manifestar indignação por Carlos César acusar os jornalistas de não noticiar o lado positivo da governação - chegando ao cúmulo de chamar «propaganda» ao que constituiria o contraponto de uma desinformação maledicente! - como invocando só ter de responder perante os leitores, os ouvintes e os espectadores.
Transcreva-se essa «pérola» do jornalismo manipulador: “ficamos a saber que para César o jornalismo exemplar é o das coisas boas, que noticia que este país é um sítio onde (já) não é “horrível de estar”. A isso chama-se propaganda. Os jornais estão obrigados ao escrutínio. Sim, encontrar responsáveis (como em Pedrógão), quando o primeiro-ministro procura que o Estado Central ou os governantes fujam a responsabilidades. O compromisso do jornalismo é com os cidadãos: os leitores, os ouvintes ou os telespectadores.”
Quem quer Vítor Matos enganar? Acha que somos parvos, ignorando quanto lhe importa sobretudo o escrutínio dos donos do jornal em que escreve e que, para tal, o criaram ou compraram? Quer esquecer todos os bons jornalistas, que foram sendo despedidos por não se coadunarem, no que escrevem, com aquilo que esses patrões desejariam ver transmitido?
Para já ficamos a saber que, contra toda a lógica, também ele se associa a Cristas, quando culpabiliza António Costa de todos os males, sejam nacionais, sejam locais. Se, por exemplo, a minha nonagenária vizinha, apesar de muito trôpega, tropeçar numa pedra da calçada e morrer da decorrente quebra dos ossos da bacia, não se duvide que, a exemplo da populista criatura do CDS, os jornalistas da «escola» de Vítor Matos, se apressariam a apontar o primeiro-ministro como causador do pavimento em causa não estar tão liso quanto se exigiria a um trânsito pedonal seguro.
Não! Por muito que os vítormatos desta vida o neguem cinicamente, o seu salário depende de contribuírem para a preservação do sistema económico, que conseguiu calar o jornalismo de qualidade e impor um outro, que entre a sarjeta e a mais hábil falácia, tenta que as coisas continuem a ser como são. Daí que, perante um governo mais à esquerda, capaz de condicionar alguns interesses desses patrões, toda a comunicação social se associe no sentido de abreviar-lhe a existência ou, no mínimo, infernizá-la.

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