sábado, 1 de agosto de 2015

O imperativo de um sobressalto democrático

Há muito se compreendem as razões porque cavaco silva foi tão pouco diligente em marcar as eleições legislativas: sabendo que o emprego é uma das principais motivações dos eleitores para castigarem a coligação das direitas, havia que preparar uma encenação tão impressiva quanto possível para demonstrar o início da “recuperação económica”.
Tratava-se de uma tarefa difícil para os estrategas da campanha, e por isso o seu auge teria de ser conseguido nestes dois meses antes do ato eleitoral, porque, com a solidez de um castelo de cartas, qualquer imponderável a faz ruir fragorosamente.
É nesse enquadramento que temos de olhar para os números sobre o desemprego, agora publicados pelo INE, e que pôs ministros e deputados da Direita a soprar ruidosamente em todas as trombetas possíveis.
Tal logro enganará muitos ou será  justificadamente desprezado por quem sente em si, ou nos familiares, a realidade nua e crua dos verdadeiros números? É que o insuspeito Jornal de Negócios fez as contas e deu-se conta de um total de um milhão e quinhentos mil desempregados.
As declarações de mota soares ou de pires de lima a defenderem os números do INE só poderiam suscitar uma sonora gargalhada de mofa se não sentíssemos o asco pela atitude corporal resoluta com que se dispõem a vender autêntica banha da cobra.
Relacionada com essa tragédia social está também a emigração, tema que nunca pode ser esquecido quando se fala de desemprego. Será que os pais, os conjugues ou demais familiares, que todos os dias estão na Portela ou em Pedras Rubras, a despedirem-se dos que partem, irão dar o beneplácito da dúvida à coligação, que lhes trouxe a dor da saudade para o seu dia-a-dia? É que nunca mais se voltara a ver, como agora, o fluxo habitual dos que partiam na década de 60! O fascismo de salazar e o austeritarismo de passos coelho traduziram-se num mesmo escorraçar de centenas de milhares de portugueses para fora do seu país.
Resta-lhes, julgam!, o argumento das “culpas” do governo anterior. Mas não foi já sancionado há quatro anos pelos eleitores? Que governo é este que teve todas as condições que quis - uma maioria, um governo e um presidente - e vem agora reconhecer nada ter resolvido dos problemas que prometia solucionar?
E quando passos coelho promete respeitar o Tribunal Constitucional não cortando nas pensões, como não nos lembrarmos das promessas de 2011? Quem poderá acreditar naquele que terá sido o campeão da mentira de entre todos os que governaram desde o 25 de abril?
E que pensarão os eleitores da confessada intenção de prosseguirem com a privatização da educação, da saúde e da segurança social? A falta de vergonha com que pretendem oferecer aos interesses privados tudo quanto ainda faz parte do Estado Social e minimiza relativamente os efeitos da pobreza em Portugal, deverá suscitar o sobressalto coletivo, que se traduza no pior resultado da Direita alguma vez verificado na nossa Democracia.

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