Na primeira página do «Expresso» veio a revelação dos contactos de Maria de Belém com o CDS em março transato para tentar colher apoios à sua candidatura presidencial.
Porque será que tal notícia não nos causa admiração, embora contribua para uma melhor avaliação do comportamento da ex-presidente do Partido?
Porque será que tal notícia não nos causa admiração, embora contribua para uma melhor avaliação do comportamento da ex-presidente do Partido?
Recordemos o tempo em que António José Seguro não mostrava pressa alguma em contestar o governo de passos coelho, ciente de, assim, o poder lhe cair nas mãos sem grande esforço. Não era necessária visão estratégica nem a defesa de valores bem definidos, porque a direita apodreceria à conta dos efeitos das suas políticas.
Aqueles que continuam despeitados com a derrota nas Primárias bem podem bramar pelo facto de as sondagens de António Costa não se distinguirem das de Seguro, que lavram num erro de palmatória: quando o anterior secretário-geral tinha 36 a 38% nessas previsões estava-se num pico de explicitação desses efeitos comprometedores das políticas da direita, com o Tribunal Constitucional a travar os cortes nas reformas, os efeitos no ensino ou na justiça das políticas de crato e de teixeira da cruz a encherem diariamente os telejornais, onde apareciam sucessivas reportagens sobre jovens a despedirem-se das famílias nos aeroportos. Ademais, a revogada demissão irrevogável de paulo portas ainda estava bem fresca na memória de todos!
Chegaram, entretanto, as eleições europeias e a verdadeira sondagem que conta - a das urnas! - deu um resultado confrangedor ao Partido Socialista, muito abaixo do que prometiam essas sondagens.
Não tivesse havido a substituição de Seguro por António Costa e estaríamos numa situação muito problemática: sem um discurso diferente do da direita, a anterior direção socialista seria cilindrada pela máquina de propaganda ao serviço da coligação PAF, que preparou para esta altura uma manipulação da realidade e dos correspondentes indicadores económicos, que ainda se tornariam muito mais difíceis de contestar do que vem sendo.
Mas que interessaria isso a Seguro e aos seus apoiantes se o importante seria chegar ao poder, mesmo que na condição de muleta mais fraca da coligação da direita?
Não admira, assim, que Maria de Belém se socorresse do CDS: é que o segurismo era essa ostensiva ausência de valores e de escrúpulos, conquanto garantisse umas lentilhas para os seus principais estrategas.
Essa mesma falta de pudor, que levava Maria de Belém a não ver qualquer problema em conciliar a atividade de deputada numa comissão parlamentar dedicada aos assuntos da Saúde, e ao mesmo tempo receber ordenado do Grupo Espírito Santo para melhor o defender como lobista junto do poder político!
Não admira que se trate da mesma personalidade capaz de sabotar a importante intervenção política de António Costa numa das principais televisões com o “oportuno” anúncio da sua candidatura, que só aproveitou à direita.
O que se está a passar com o estertor do moribundo segurismo prejudica seriamente os esforços de António Costa em garantir a maioria absoluta, que os portugueses necessitam, mas, por outro lado, também justifica a urgência em separar rapidamente o trigo do joio, para que não saiam frustradas as expectativas criadas pela Agenda para a Década...
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