A autoproclamada universidade de verão do PSD em Castelo de Vide não se limitou a ter como motivo de interesse as inacreditáveis afirmações de paulo rangel sobre a situação da Justiça em Portugal. Outro dos oradores, que esteve em destaque foi horta osório, esse xuxu dos banqueiros internacionais, que o idolatram pela forma como consegue rentabilidades ímpares à custa de despedimentos maciços dos seus colaboradores.
E o que veio o guru neoliberal dizer de novo? Nada! Absolutamente nada! O que ele tinha para contar aos jovens laranjas traduziu-se na repescagem da velha falácia de termos vivido acima das nossas capacidades e por isso sofrermos com os efeitos da crise! Como se os banqueiros internacionais nada houvessem contribuído para ela.
Sempre arguto nas suas análises, sem jamais perder a elegância, Nicolau Santos escrevia no «Expresso»: “Para quem recebeu 15,6 milhões de euros em 2014, mais 50% do que no ano anterior, Horta Osório tem a maior autoridade para nos dizer que estávamos a viver acima das nossas posses. Falta-lhe é um bocadinho de bom senso. Ou de pudor.”
Curiosamente, no mesmo jornal, Pedro Adão e Silva retomava o mesmo tema de forma invulgarmente ambígua, porque considerava já ter acontecido a vitória da direita ao impor esse ponto de vista à maioria da população: “A direita já venceu as eleições. Não estou a dizer que a coligação será a força política mais votada. Pelo contrário. A questão é de outra natureza: o quadro político em que operamos é influenciado por uma hegemonia do pensamento de direita e por um recuo da social-democracia.
O exemplo mais claro desta transformação política, que aliás está longe de se circunscrever a Portugal, é a forma como interiorizámos as virtudes da austeridade como forma de expiar uma culpa coletiva, assente na ideia de que vivemos acima das nossas possibilidades.”
Eu seria menos apressado a considerar essa vitória garantida. É que não podemos ignorar que 552 mil portugueses ganham menos de 419 euros mensais. Que existem 352 mil pessoas oficialmente desempregadas e sem qualquer apoio público. E que, em média cada português empregado ganhava em média 971,5 euros e agora só aufere 947.
Trata-se de muita gente, que sentiu nos bolsos a quebra na qualidade de vida, que em quase todos só dava para acorrer ao essencial. E, dificilmente, aceitará ter vivido acima do que seria um valor mínimo para satisfazer um padrão de sobrevivência menos apertado.
Se existem muitas notícias - nenhuma delas casuística - a dar conta de mais carros e casas vendidas ou de inúmeras viagens vendidas para Cancun ou para a Riviera Maia, a verdade é que quem acede a tais níveis de consumo continua a ser uma minoria pouco afetada pela crise e convicta das falácias de passos coelho. Ainda assim, quantos estiveram nesse patamar e empobreceram inapelavelmente nestes quatro anos? Serão esses, porventura, os tais indecisos que deram a vitória à direita há quatro anos e estão prontos para a fazerem pagar o custo da infelicidade, que lhes terá infligido...
Sem comentários:
Enviar um comentário