Se há algo que me está a fazer sair do sério é o comportamento de alguns socialistas nesta fase de pré-campanha eleitoral.
Acaso tivessem defendido António José Seguro ainda compreenderia as suas atitudes como fruto do despeito por terem saído tão copiosamente derrotados nas Primárias. Por isso, embora o não possa aceitar, pouco me admiram as suas atitudes de demissão perante o grande desafio das próximas semanas, senão mesmo atacando o Partido onde podem, como se verificam nos exemplos mais grotescos.
Mas que dizer dos que estiveram empenhadamente na vitória de António Costa e agora se deixam embalar pela atitude hostil dos jornais e televisões, interiorizando as críticas à forma como se está a desenvolver a campanha?
Em primeiro lugar esquecem que, ao contrário do PSD e do CDS, a quem não faltam os recursos financeiros para ter aprontada uma máquina propagandística disposta a fazer parecerem laranjas doces o que são medidas mais amargas do que os limões, o Partido Socialista terá de gerir a sua campanha com um orçamento assaz limitado. Mas, depois, parece que olham para cada cartaz, para cada sondagem, com um derrotismo desconcertante.
Que os marketeers brasileiros do PAF tratem de denegrir cada palavra saída da boca de António Costa não nos pode espantar, já que estão principescamente pagos para o fazer. Mas que socialistas venham a concordar com a sua argumentação é o que me dececiona. Porque o que tem de mal o cartaz, ainda exposto, a sublinhar a importância do virar de página sobre o que foram estes quatro anos?
Bem podem os adversários apostar na chicana associando-os a propaganda religiosa ou ao governo de José Sócrates, que maior deveria ser o nosso vigor em defendê-lo, porque, ao aceitarmos essas críticas à forma e ao conteúdo, estamos a interiorizar o que querem espalhar pela opinião pública.
Na realidade queremos ou não queremos virar de página? É ou não é isso o que pretende a maioria dos portugueses?
E quanto à evocação de Sócrates, bem podemos contrastar os efeitos sociais dos seis anos de governo entre 2005 e 2011 e os dos quatro da coligação de direita: quantos verdadeiros desempregados num e noutro período? Quantos emigrantes? Quantos suicídios? E por aí fora, que as perguntas sofísticas não teriam fim, se aqui continuássemos a lista-las.
Quanto aos cartazes ainda não afixados, a mesma coisa: qual o mal daquela senhora ter perdido o emprego em 2010, ainda na governação de Sócrates? Por quantos meses recebia então o subsídio de desemprego e quantos passaram a vigorar com este (des)governo? E qual o valor do subsídio de desemprego a que tinha direito então e quanto passou a ter? E, acabado este subsídio, qual a percentagem da possibilidade de se ver contemplada com o subsídio de rendimento mínimo, que lhe aligeirariam as dificuldades?
Quantos socialistas se empenharam a defender esse cartaz nas redes sociais em detrimento dos que se deixaram levar na onda difundida pelos jornais e televisões do costume?
E o outro cartaz, o da rapariga condenada a trabalho precário desde 2011? Porque se aceitou o argumento de ainda ter acontecido no governo de Sócrates, quando esse também foi o ano do início do pesadelo da chegada da direita ao pote?
Acabemos, enfim, com a sondagem hoje publicada no «Expresso» e que, de acordo com a leitura proposta pelos jornalistas a soldo de Balsemão, dá um empate técnico entre o PS e a coligação da direita.
Para além de devermos desconfiar das sondagens, que nenhuma entidade independente, e acima de qualquer suspeita audita, - e que andam a falhar demasiadas vezes um pouco por todo o lado! - importa sublinhar que ela não deixa de reconhecer que 41,3% dos inquiridos aposta em António Costa como futuro primeiro-ministro a partir de outubro e que a sua diferença de popularidade (em crescimento!) dista 21,8 pontos de passos coelho.
Estamos, pois, perante um momento em que alguns socialistas lembram aquelas equipas de futebol decididas a esquecer a regra de ser o ataque a melhor forma de defender. Por isso em vez de olharem para a nossa própria baliza, melhor fariam em olhar para a do PAF e dispararem para ela os remates mais certeiros possíveis. Será essa a estratégia mais garantida para que alcancemos a maioria absoluta!
Adenda - A polémica sobre a “desempregada” desde 2012, que deu de bandeja ao «Observador» mais uma acha para a fogueira é mais um exemplo desse comportamento ambíguo. Ela própria reconheceu ter-se oferecido para participar na campanha com a sua imagem, mas parece não ter entendido que se tratava de figuração, com o que isso representa: o importante é a mensagem política associada a ela e não a sua fotografia apenas destinada a representar a de muitos jovens da sua geração!
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