Estão a decorrer nesta altura as negociações para o terceiro resgate da Grécia, o que torna oportuno o artigo «A Europa que não queremos mais«, assinado por Serge Halimi na edição de agosto do «Le Monde Diplomatique».
No seu texto, o diretor do jornal francês anuncia três ensinamentos possíveis a partir da crise grega:
“Em primeiro lugar a natureza cada vez mais autoritária da União, à medida que a Alemanha nela impõe, sem contrapesos, as suas vontades e as suas obsessões. Em seguida, a incapacidade de uma comunidade fundada numa promessa de paz de tirar a mais pequena lição da história, mesmo recente, mesmo violenta, a partir do momento em que acima de tudo lhe importa sancionar os maus pagadores, os insubordinados. Por fim, o desafio que este cesarismo amnésico coloca aos que viam na Europa o laboratório de uma ultrapassagem do quadro nacional e de uma renovação democrática.”
Muito embora a existência de uma enorme diáspora justifique a importância dada a uma Europa sem fronteiras, justifica-se a nossa desconfiança progressiva a respeito de instituições geridas como se se tratassem de administrações bancárias.
A partir do momento em que se comprovou o desrespeito pela vontade das populações, como ficou demonstrado na brutalidade das exigências impostas ao governo de Alexis Tsipras, passou a fazer todo o sentido os alertas há muito enunciados pelos que se assumiam eurocéticos sem papas na língua. Porque, o diagnóstico feito pelo Syriza, quando ganhou as eleições de janeiro estava correto nos seus dois principais eixos argumentativos: nem a receita imposta pela Nova Democracia e pelo Pasok nos cinco anos anteriores tinha resultado, nem seria possível a recuperação económica ou o pagamento de dívida com um setor produtivo desmembrado.
Como se pretende manter essa lógica austeritária no nosso país, com o apoio entusiástico do PSD e do CDS, faz sentido a proposta de Halimi para que se pare e reflita. E se vire as costas a essa “fatalidade”.
“Mesmo para os que temem que uma saída do euro favoreça a fragmentação do projeto europeu e o despertar dos nacionalismos, a crise grega proporcionou um estudo de caso que demonstra que a moeda única se opõe frontalmente à soberania popular.”
Hoje parece, evidente, que merkel, schäuble, juncker, tusk ou dijsselbloem querem impor uma Europa onde a Democracia deixa de ter qualquer papel, porque passam a ser os orçamentos de Estado equilibrados a condicionarem tudo o resto. Mesmo que as receitas se minimizem à conta de um Estado privatizado e as despesas se maximizem através de cargas fiscais asfixiantes.
Conclui Halimi: “ Na sua História, a Grécia já suscitou grandes questões universais. Desta vez, ela acaba de revelar aquilo com que na verdade se parece a Europa que não queremos ter.”
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