Nunca fui um entusiasta das primárias como modelo definidor de lideranças dos partidos, sejam eles quais forem. Mesmo quando me empenhei ativamente na que deu a vitória a António Costa contra António José Seguro, sempre a vi como uma jogada inepta deste último para ver facilitada a vitória, que julgaria mais fácil contra quem o desafiara.
É por isso com toda a legitimidade que concordo em absoluto com a derrota imposta pela Direção Nacional do PS à linha minoritária de Daniel Adrião, que pretendia ver consagrado um modelo de eleições internas, que contraria um principio absoluto: quem tem o direito de definir as lideranças das organizações são quem nelas milita, quem as financia através das suas quotas.
Isto não exclui o facto de se exigir bem mais ao Partido Socialista para que torne sustentável o apoio social conquistado pelos resultados da governação de António Costa e expresso em sucessivas sondagens.
Ao contrário da prática dessa mesma Direção Nacional, que julga abrir-se á sociedade civil com conferências e seminários onde só comparecem os já conquistados para as causas do Partido, a prioridade deveria ser conferida à reabertura de sedes locais em tantos sítios quanto os possíveis e com uma contínua atividade de contacto com o eleitorado através de propaganda distribuída o mais regularmente possível em mercados, estações de transportes públicos e até mesmo porta-a-porta, algo que vemos os ingleses praticarem como regra fundamental da relação partidos/eleitores e aqui ignorada.
Será necessário muito dinheiro para tal estratégia? Decerto o será! Mas a partir do momento em que essa seja definida como uma prioridade a médio prazo, tão só as finanças do partido recuperem da situação muito delicada a que chegaram, não há outro caminho. Até porque essa será a forma de muitos simpatizantes darem o passo seguinte, que é o da adesão militante, contribuindo para tornar mais saudáveis essas depauperadas contas.
E perante esse objetivo, porventura talvez sejam valorizados os militantes dispostos a pagarem para fazerem política no sentido mais genuíno e desinteressado possível, ou seja sem terem por fito virem a ocupar um qualquer cargo, que saibam remuneratoriamente apetecível. Porque, como se tem visto no turbulento processo de escolha de candidatos para as próximas autárquicas, essa sofreguidão por lugares elegíveis, e potencialmente remuneráveis, tem sido mais do que indecoroso.
Quando os partidos, e o Socialista em particular por ser o da minha filiação, são objeto de críticas malévolas dos seus detratores, devem reconhecer que algumas delas têm fundamento, embora a maior parte provenha de quem, consciente ou inconscientemente, defende propósitos, que nada têm a ver com a Democracia. Com a imposição de uma ética, que saneie comportamentos malsãos, poder-se-ão cativar militantes empenhados em verem a sua adesão política como um exercício de cidadania e reduzir o espaço de influência dos que só ao Partido conferem má fama.
É por isso que reduzir essa participação cívica a umas meras eleições primárias constitui uma falácia incapaz de ir ao fundo da questão. Tendo emergido da sociedade como representação organizada da sua vontade, o Partido Socialista deveria apostar na recriação de estratégias de comunicação mais intensas entre os militantes e os eleitorados a nível local. Algo que, infelizmente, ainda não se vislumbra como prioridade da Direção Nacional.
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