1. O desvio de cerca de duzentos mil euros das contas da Junta de Freguesia da Foz do Arelho é um eloquente exemplo do que significa a gestão autárquica quando entregue a movimentos independentes de forte cunho moralista.
Eleito numa lista conotada com a associação populista de Paulo Morais, o presidente dessa freguesia instituiu remunerações ilegítimas para si e para uma das funcionárias, gastou verbas com fraldas, óculos, bebidas alcoólicas, telemóveis e combustíveis, sem qualquer suporte legal que as justificasse.
Este tipo de casos justificam a desconfiança face a quem aparece de para-quedas na política a reivindicar-se de grandes virtudes públicas, e acaba por se desmascarar nos seus vícios privados.
2. Há cinquenta anos quando, numa curta guerra, Israel aumentou em seis vezes o seu território ocupando a Cisjordânia, os Montes Golan, o Sinai e Jerusalém, dificilmente se poderia conjeturar a possibilidade de manterem ilegalmente grande parte desse território sem o devolverem a quem cabem à luz do que manda o Direito Internacional: o Estado da Palestina.
A médio prazo essa guerra suscitou o fim dos regimes laicos dos países árabes e a ascensão dos movimentos religiosos radicais, que se traduziriam na panóplia de grupos terroristas desde então apostados em fazerem uma guerra de civilizações à escala global. Em Israel sucedeu algo de semelhante com a perda de influência dos trabalhistas e a crescente relevância da ideologia messiânica, que aspira a tornar permanente uma ocupação rejeitada pela comunidade internacional.
Os sionistas religiosos estão cegos quanto ao caminho pretendido: se por ora contam com o apoio de Trump, quando este cair pouco poderão fazer para impedir a evolução demográfica que se adivinha. Não faltará muito para que haja mais muçulmanos do que judeus em Israel. E, nessa altura o desejo de negociarem uma solução baseada na lógica de dois Estados independentes perderá provavelmente oportunidade. Restar-lhes-á a imposição de uma imitação do apartheid sul-africano com o que a História ensina como inevitavelmente acabará.
3. Às vezes as notícias de pé de página dos jornais são muito elucidativas sobre o estado das coisas nos contextos a que reportam. A constatação de um avassalador crescimento do número de mortes por overdose nos Estados Unidos reflete bem a doença social ali verificada e de que a eleição de Donald Trump constitui apenas um sintoma.
Incapaz de dar resposta às aspirações dos seus cidadãos a uma qualidade de vida minimamente aceitável, as sucessivas Administrações da Casa Branca, democratas ou republicanas, dificilmente conseguem iludir o fracasso dos esforços por manter vivo um sistema económico a rebentar pelas costuras.
Será difícil perceber porque andam tantos filhos do tio Sam a procurar ilusões de felicidade em sonhos psicadélicos? No fundo o atual presidente é só mais um desvario de uma sociedade à deriva.
4. A três dias das eleições Corbyn justifica bem a razão porque se dizia preparado para as disputar, quando a opositora deu o dito por não dito e decidiu-as convocar julgando fácil uma vitória absoluta.
Nunca deixando de se focar nos temas sociais, Corbyn tem respondido taco-a-taco a Thersa May, quando ela pretende ganhar votos à conta da exploração dos temas da segurança.
A exigência de demissão, que lhe fez pelo facto de ter agravado a falta de proteção dos cidadãos ao ter despedido vinte mil polícias, quando tutelava o setor no governo de David Cameron, constitui um xeque portentoso do velho combatente das esquerdas, que muitos deram como morto politicamente demasiado cedo.
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