O episódio do suicídio, que afinal nunca existiu, serviu para percecionar uma eventual mudança no comportamento do jornalismo português em relação às direitas de que, com raríssimas exceções, se fez porta-voz nos últimos seis ou sete anos.
Ao rever as imagens do atrapalhado Passos Coelho face às insistências dos jornalistas, que lhe pediam dados concretos sobre a notícia em causa, assistiu-se a algo de incomum ainda há algum tempo: é que o ainda líder laranja habituara-se a debitar bitaites para os telejornais sem que houvesse quem tratasse de lhe exigir fundamento ao que dava como certo. Por isso, baseado em rumores ou até como fruto da imaginação de um dos seus mais azougados colaboradores, achou por bem avançar como uma «novidade», que adivinhava capaz de fazer mossa ao governo na abertura de todos os telejornais.
Que chatice a de lhe estarem a estender microfones alguns jornalistas com sentido crítico e ousadia bastante para exigirem mais do que mera retórica eleitoralista. Foi quanto bastou para se ver Passos estendido ao comprido, obrigando-se à cena memorável de ter de se desdizer.
Doravante ele fica ciente de se conter na emissão de fake news, porque já não conta com a complacência acrítica de quem lhe costumava aparar todos os golpes. Façamos votos de que este pequeno exemplo seja o prenúncio de atitude diferente de uma classe ainda há pouco reunida em Congresso supostamente empenhado no incremento das boas práticas deontológicas.
Apesar das judites de sousas, das anas lourenços ou dos zésgomesferreiras, há, pois, esperança em que o jornalismo luso volte a estar á altura do praticado na época dos seus maiores vultos, aqueles que nem sequer a besta fascista impedia de espelharem a realidade por maiores voltas que se vissem obrigados para contornar a abjeta censura.
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