É evidente que as eleições francesas foram um desastre para o Partido Socialista. Hollande e Valls, que tanto ambicionaram mudar-lhe o nome e o programa só podem estar de parabéns, porque conseguiram o pleno dos seus objetivos com as políticas de traição à matriz ideológica de que se haviam arvorado defensores. Só lhes terá corrido mal a antecipação oportunista de Macron, que os impediu de colherem os louros da sementeira por eles regada nos últimos cinco anos.
Quer isto dizer que a pasokização do Partido Socialista francês é irreversível? Acredito que não, porquanto os militantes de base já revelaram a intenção de virarem a página a este malfadado período de «recentramento», eufemismo para designar uma indisfarçável viragem à direita.
Confirma-se mais uma vez o que sucede aos partidos socialistas, quando tomam das direitas as políticas: o povo que não é parvo acaba sempre por preferir o original - e Macron é um representante da direita financeira! - à sua cópia.
Não é difícil prever o que se seguirá: intensa luta sindical contra a austeridade e a redução das remunerações de quem trabalha de acordo com a cartilha da TINA. Não esqueçamos que a França há muitos anos que não consegue cumprir o objetivo de menos de 3% de défice em relação ao PIB nunca lhe tendo acontecido as punições impostas aos demais países do sul da Europa.
Seja com Benoit Hamon, seja com qualquer outro líder, o Partido Socialista renascerá das cinzas, sobretudo se Mélanchon sair de cena com o seu prejudicial e incurável narcisismo.
Mas as eleições também vieram corroborar a tese da perda de influência da Frente Nacional, que pouco passou dos 12%. Marine Le Pen viu esvair-se por um canudo o robusto grupo parlamentar com que aspirava liderar a oposição ao governo de Macron. Se conseguir cinco deputados será muito, tornando-se até provável que fique reduzida a ela mesma no meio de quase seiscentos deputados.
Impressionantes, enfim, os números da abstenção: depois de afugentarem os riscos da extrema-direita os franceses gastaram o domingo em atividades mais proveitosas do que irem às urnas. Macron beneficiou da motivação dos que se iludem em pensar ser ele a solução para tirar a França dos apertos em que a sua economia se vê há várias décadas, assim se explicando que, com um terço dos votos fique com mais de dois terços de deputados. Efeitos perversos de um sistema eleitoral injusto e fomentador do afastamentos dos eleitores.
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