Sei que esta época é sempre monótona: pensa-se, sobretudo, nas férias de verão, e a política secundariza-se, dando espaço aos invariáveis textos parvos nas capas das revistas. Silly season, assim crismaram os ingleses esta fase, só ainda sobressaltada pelos mortos de Pedrógão.
Mesmo à distância vou tentando acompanhar as notícias nas televisões e nos jornais e nada parece sair da banalidade. Quase lembra o filme do Jim Jarmusch, agora em exibição no Ideal Paraíso, sobre a estória de um motorista com uma vida todos os dias sempre igual.
O governo governa, os parceiros de coligação emparceiram, o líder da oposição estatela-se e a sucessora de Portas inquieta-se com os filhos encomendados a uma colónia de férias à beira das florestas. Bem poderia ganhar sossego com a opinião especializada de Passos, que adora eucaliptos e explica a intenção de lhes reduzir os impactos nos fogos, porque Costa tem de contentar os Verdes. Se isto não é silly, que mais será preciso arranjar?
Embora tenha chegado tarde à emissão em direto do debate parlamentar de ontem aquilo a que assisti foi o habitual: António Costa a passear-se como um grande senhor por entre as cabisbaixas bancadas das direitas.
Na entrevista de hoje Santana Lopes procura dar algum alento aos desencantados do seu campo: anuncia a possibilidade de se terem acabado as boas notícias com que Costa tem brilhado, vendo no incêndio da semana passada o ponto de viragem. Tivesse dado a entrevista a David Dinis depois da derrota com o Chile, o provedor da Santa Casa encontraria nesse resultado mais uma prova evidente de, desta é que sim, o Diabo não tardará a vir aí apressado a desculpar-se da falta de pontualidade no seu compromisso com Passos. Como de costume na criatura, a argumentação das quatro páginas acompanha este registo primavera-verão: obviamente silly...
Para a parvoíce ser mais completa o i vai-se aprimorando em capas risíveis, porventura resultantes dos seus próprios focus groups, o tavares indigna-se por não ser o barreto a presidir à Comissão Independente sobre os incêndios e o vieira pereira diz que houve crime, sim senhor, mas sempre afeiçoado á vida boa de Lisboa.
Pena ter-se parado com a velha brincadeira de tentar descobrir onde está, e quem é o wally, neste caso um tal sebastião pereira, que fez toda a gente andar a cogitar quem seria. Mas o tom continua com o escândalo de uma palavra dita pelo nosso eurofestivaleiro num espetáculo, que me dizem ter sido do mais pimba que se poderia imaginar. Mais parvoíces em suma.
E, no entanto, por estas bandas neerlandesas, as coisas não andam mais animadas: a modorra é tanta, que estes tipos com que me cruzo quando vou às compras ou ao colégio da neta, não parecem nada preocupados por eu ir indo e vindo entre Lisboa e Haia e continuarem por ter um governo digno desse nome...
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