1. Os sinais ainda não são tantos quanto desejaríamos, mas começam a prenunciar uma vaga de fundo avassaladora. E Bernie Sanders, reagindo aos resultados das eleições inglesas, aponta nesse sentido: “Estou feliz por ver os trabalhistas com tão bons resultados. Em todo o mundo, as pessoas estão a erguer-se contra a austeridade e contra os elevados impostos e injustiças económicas”.
2. A derrota de May - porque insistir na tese da sua “vitória”, dada a dependência em que fica relativamente à direita irlandesa, é tão absurda quanto a de Passos Coelho ter ganho as últimas eleições! - começa a suscitar dissensões sérias dentro do seu próprio Partido. George Osborne, que foi o ministro das Finanças de Cameron, ou Nicky Morgan já vieram dar conta da necessidade em discutir a liderança do seu partido. Até porque, dentro dele, May conta com o apoio dos eurocéticos - apostados em manter a validade do referendo que decidiu o Brexit! - mas tem contra ela a desconfiança dos defensores da filiação na União Europeia, dispostos por certo a colocarem-lhe obstáculos nas negociações com Bruxelas.
No «Público», Teresa de Sousa prevê grandes dificuldades para Theresa May, fazendo comparações com o sucedido a Margaret Thatcher: “No ar vai continuar a dúvida sobre se os conservadores a vão deixar em paz por causa do “Brexit”, ou se decidem “cortar-lhe” a cabeça. Os tories costumam ser implacáveis com os líderes que perdem. Basta lembrar o que fizeram a Margaret Thatcher em Novembro de 1990, quando consideraram que ela era uma ameaça à permanência do país na Comunidade Europeia. Thatcher foi a Paris para participar numa cimeira de celebração do fim da Guerra Fria. Quando regressou, tinha sido destituída pelo grupo parlamentar do seu partido. Foi a única vez que alguém viu um brilho de lágrimas nos olhos da Dama de Ferro.”
3. Se os Conservadores conseguiram a maioria dos deputados foi por terem beneficiado do voto útil dos anteriores eleitores do UKIP, que viram no apoio a May a possibilidade de salvaguardarem a concretização das políticas xenófobas do seu particular agrado. Mas as circunstâncias tendem a minguar a base de apoio ao governo coxo, que sai destas eleições: é impressionante ver como os Trabalhistas conseguiram ganhar em Londres (mesmo onde era improvável, como o caso de Kensington ou Chelsea, onde a perplexidade com os resultados obrigaram a recontagem de votos) e nas zonas operárias, e sobretudo em quem tem menos de 45 anos de idade. Sobram, pois, para os Conservadores, os mais velhos e os que vivem naquele género de vilas e aldeias do interior, onde provavelmente nunca se viu um imigrante, mas onde eles são temidos como se se tratassem de servos de Belzebu.
Dois dias depois deste ato eleitoral, o que dele fica como balanço só nos pode justificar animadas expetativas para o futuro.
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