Não era preciso recorrermos a nenhuma vidente para sabermos o que iria acontecer: quando começaram a surgir as notícias sobre vítimas mortais no incêndio de Pedrógão Grande estava-se mesmo a ver o aproveitamento que as direitas, coligadas com a comunicação social a elas afeta (que é quase toda!) haveria de fazer do caso o grande foco de contestação ao governo, que de outro modo, não conseguia pôr em causa por nenhum outro pretexto.
Marcelo, prudente, ainda apelou à contenção e à unidade nacional, embora não deixasse de semear de «agoras» as suas intervenções, como se se preparasse para, ao menor pretexto, questionar uma governação, que apenas tolera por manifesta falta de alternativa do seu campo político.
As exéquias fúnebres ainda estavam por cumprir e já abutres pairavam por cima dos cemitérios com a candidata laranja a Lisboa a pretender comissões independentes para averiguar as causas e a forma como o sinistro foi combatido, como se não existisse competência em quem tem a obrigação de proceder a tal análise. No CDS um obscuro deputado, cuja presença no hemiciclo tem passado mais do que despercebida, veio falar em dói-dóis como se toda a situação se compadecesse com pilhérias parvas.
O grande ataque veio, porém, dos meios de comunicação social que, como alguém tweetou, mostrou toda a sua “espetacularidade” depois de recente Congresso recheado de lindas palavras e pias intenções. Para além do voyeurismo indecente de se fazerem reportagens com cadáveres em segundo plano ou da falta da mínima ponta de vergonha ao interrogarem pessoas ainda em choque pela perda de entes queridos, houve a clara intenção de mover equipas de reportagem para sítios onde os bombeiros não chegavam, de forma a «denunciar» a mais do que desmentida falta de meios, ou de repetirem incessantemente «fake news», avidamente convencidos de, através delas, porem em causa a eficácia do dispositivo no terreno.
Agarrando-se a todos os argumentos inimagináveis até punham em causa não se ter encerrado a estrada onde tantos morreram, como se a rapidez com que o incêndio se propagou possibilitasse a movimentação de centenas de polícias para as dezenas de acessos a ela conducentes.
Se a estória do Canadair acidentado teve todo o aspeto de uma informação disparatada emitida por alguém muito abaixo da escala hierárquica mobilizada para a operação, mas que fazia muito jeito noticiar enquanto pudesse ser usada e abusada, a dos entraves supostamente colocados à entrada de bombeiros galegos teve a clara intenção de possibilitar a sua repetição por mil vezes para a tornar em incontestável verdade. A tal ponto que, na inenarrável entrevista ao primeiro-ministro na TVI, Judite de Sousa agarrava-se a ela como náufraga a exígua boia no meio do oceano da sua desesperada tentativa em se salvar da violenta contestação de que foi objeto nos últimos dias.
Nesse sentido só podemos elogiar a calma com que António Costa replicou a dois mabecos (roubo esta imagem ao meu amigo Arnaldo Serrão!), cujo intento só parecia ser o de conseguirem ser mais agressivos e crapulosos do que José Gomes Ferreira. Depois de ter despedido Augusto Santos Silva da forma indecente como o fez, quando ainda vigorava o governo de Passos Coelho, o patrão-mor da TVI, Sérgio Figueiredo, continua a dar mostras do tipo de estratégia, que é a sua.
Os últimos dias têm demonstrado, que a grande oposição ao governo, continua a ser a das televisões e da generalidade da imprensa escrita. De Balsemão filho ao dono da Cofina, passando pelos mentores do tea party à portuguesa, acolitados no Observador e seus sucedâneos, prossegue e promete continuar, a tentativa de desgastar quem tão excelentes resultados tem conseguido nos indicadores económicos, financeiros e sociais. E se as esquerdas não tratam de resolver rapidamente este grosseiro desequilíbrio na gestão da informação, bem se poderão queixar quando as dificuldades não tiverem o carácter momentâneo do atual drama.
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