A eleição de Trump, e sobretudo o seu comportamento errático nestes cinco meses de ocupação da Casa Branca em que nem sequer conseguiu pôr fim ao Obamacare, pode dar muitas esperanças aos Democratas quanto a vitórias nas parciais para o Senado e para a Câmara dos Representantes do próximo ano, mas é bom que metam a casa em ordem e definam o que querem.
O texto de Alexandre Martins na edição de hoje do «Público» é elucidativo quanto ao tempo perdido até agora pelo grande Partido da oposição. Esperava-se uma rápida análise de tudo quanto conduzira ao catastrófico resultado de novembro transato e a correção das políticas e estratégias seguidas, mas continua-se por definir se optará por uma linha mais centrista, se mais acentuadamente à esquerda de acordo com os desejos dos apoiantes de Bernie Sanders. As dúvidas deveriam ser dissipadas em função dos ensinamentos recolhidos nas quatro eleições parciais, entretanto organizadas para outros tantos lugares da Câmara dos Representantes. Todos eles pertenciam a Republicanos, pelo que a eventual vitória num deles significaria o prenúncio de uma viragem política em favor dos Democratas. Ora isso não sucedeu: na Geórgia, onde concorreu o challenger mais centrista os resultados foram dececionantes. Pelo contrário nos distritos rurais do Montana e do Kansas, onde as vitórias republicanas costumavam ser esmagadoras, revelaram-se bem mais apertadas graças a candidatos próximos do velho senador, quase vitorioso nas primárias.
Tudo aponta, pois, para um sucesso potencial das propostas mais à esquerda, à medida das aspirações dos eleitores desencantados com uma América, feita de pesadelos em vez dos prometidos sonhos. Se os candidatos democratas afinarem pelo diapasão do mais do mesmo, sairão tão chamuscados quanto Hillary Clinton.
Esperemos que o grande partido aprenda depressa tal lição.
Trump, por seu lado, tem muito pouco de que se gabar. A mais recente edição da «Mother Jones» revela como, depois de surgir com todo o espavento em 2012, as Torres Trump em Toronto perderam o nome e passaram para novos investidores após rotundos fracassos financeiros.
Como sucedera com outros empreendimentos, construídos sem aplicação de dinheiro seu, essas torres eram construídas captando dinheiros privados, cujo aliciamento era garantido com bem sucedidas campanhas publicitárias capazes de prometerem avultados rendimentos aos investimentos nelas aplicados. Um milionário comprava as frações, que entendesse, pagando-as ainda na fase de projeto, esperando receber uma generosa comissão sobre o seu aluguer tão-só ficassem concluídos tais arranha-céus.
Cinco anos depois nem os incautos foram em número suficiente para levar essas torres à conclusão, como os lautos dividendos nunca lhes chegaram aos bolsos. A exemplo de outros parceiros de negócios de Donald Trump, há muitos indignados com a espoliação de que se viram alvo.
Para que o crime não compense há a reconhecer que a eleição não terá ajudado grande coisa os negócios da organização do seu mentor: gozando de má fama, os hóteis Trump esvaziam-se, mesmo com pacotes de descontos significativos para quem neles teime pernoitar. Por outro lado muitos associados de Trump, nomeadamente da Ucrânia e da Rússia andam a movimentar os seus duvidosos pecúlios para outros investimentos, que não os da ambígua personagem. Resultado: a ambição de chegar à Casa Branca poderá revelar-se-lhe ruinosa. O que se trataria da mais elementar Justiça!
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