A última vez que vi Alípio de Freitas ele já quase perdera a visão e tinha grandes dificuldades em deslocar-se. Foi há ano e meio numa das iniciativas de apoio à candidatura do Prof. Sampaio da Nóvoa. A cabeça, porém, mantinha-se muito lúcida, conseguindo estruturar um discurso bem fundamentado para justificar a sua posição pública quanto a tal eleição.
Esta manhã ficámos a saber da sua morte aos 88 anos e justificou-se que, ao longo do dia, o tivéssemos referenciado nas conversas de circunstância, que fomos tendo com várias pessoas e em sucessivos lugares. Porque não é todos os dias que desaparece um lutador da sua fibra, justificativa da bela canção criada por Zeca Afonso como forma de apoio aos esforços para o libertar das prisões fascistas brasileiras.
No currículo tinham estado múltiplas iniciativas destinadas a organizar e a promover as reivindicações dos camponeses pobres contra a exploração dos latifundiários. Nessas lutas conhecera muitos combatentes da sua igualha e que os militares ajuramentados à Operação Condor tinham torturado e assassinado.
Nesses anos a sua condição de sacerdote fora posta a rude prova com a generalidade dos seus superiores a intentarem o que não imaginavam ser impossível: levá-lo a desistir. Porque, mais do que ser homem de Deus, Alípio sentia muito maior devoção pelos explorados. Em vez de improvável Paraíso extraterreno, ele decidiu apostar na possibilidade de o antecipar enquanto se estava vivo.
Quando voltou para este lado do Atlântico foi jornalista de referência não havendo quem melhor entendesse e explicasse os desenvolvimentos das políticas nos vários países latino-americanos. Mas sempre suscitando uma enorme admiração por tudo quanto simbolizara.
Agora o velho guerreiro descansou e só é pena que não tenha assistido à mudança por que tanto lutou e por que tantos seus iguais continuarão a pelejar.
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