1. Nos últimos tempos temos assistido a muitos despedimentos na imprensa nacional e a algumas transferências com algum significado. Uma delas foi a de Pedro Santos Guerreiro, que saiu do cargo de diretor do «Jornal de Negócios» para o «Expresso». Cumpriu assim o que dissera algum tempo antes ao prever a mudança de rumo quando se se lhe tornasse incompatível trabalhar para interesses angolanos demasiado persuasivos na definição de uma linha editorial diferente da por si julgada como a mais correta.
Ganhou o semanário de Balsemão com um jornalista sério e competente numa área - a económica - onde só Nicolau Santos parecia desviar-se da linha pró-governo e pró-neoliberalismo, e também ganharam os espectadores da SIC, que passaram a ver frequentemente um comentador mais credível do que o inefável josé gomes ferreira a quem tarda o momento de ir fazer companhia a mário crespo.
2. No artigo deste sábado, Pedro Santos Guerreiro escreve sobre «O Nosso Novo Banco», lembrando que o BES representava 20% do mercado e que o modelo de resolução para comportar a sua falência “foi o que teve de ser quando se chegou onde chegámos”.
Na sua perspetiva também não sobra qualquer dúvida sobre quem já está a pagar a criação do Novo Banco: “é claro que é dinheiro dos contribuintes. Primeiro, porque são eles que vão emprestar 3,9 mil milhões. Depois, porque até o dinheiro da banca é … também dos contribuintes”, já que o dinheiro do tal Fundo de Resolução resulta de impostos.
Mas, olhando para o futuro, o jornalista tem poucas dúvidas quanto ao sucesso da venda do Novo Banco por 4,9 mil milhões de euros. Sabendo-se o ritmo a que os depositantes estão a levantar o seu dinheiro para o mudar para outras instituições bancárias de cada vez que isso sucede ele “fica mais pequeno, tem de reduzir crédito, logo perde rentabilidade e valor”.
Por isso a previsão não é difícil de fazer: “O Novo Banco será vendido aos pedaços e alguém perderá parte dos 4,9 milhões de euros. Olhe lá ao espelho e pergunte: quem?”
3. Esta semana o Partido Socialista deu razão aos que o veem hoje dividido entre duas formas de fazer política difíceis de conjugar. Porque, relativamente ao caso BES, foi muito diferente o comportamento face à ministra das finanças na Comissão Permanente e o assumido na Comissão das Finanças perante o governador do Banco de Portugal. Aonde na segunda dessas intervenções o Partido foi incisivo e incómodo, levando carlos costa às cordas por não conseguir negar as falhas das últimas semanas e que prejudicaram tantos pequenos acionistas e credores - e o mérito é do sempre eficaz João Galamba! - na sessão onde foram os apoiantes de Seguro a indagarem a governante não se alcançou idêntica pressão senão para - e aí reconheça-se mérito em Alberto Martins - desmentir a demagogia do CDS, que queria cavalgar à conta das opções tomadas aquando do caso BPN como se então a situação fosse similar e se dispusessem das mesmas ferramentas entretanto criadas pela União Europeia para responder a crises sistêmicas no setor bancário.
Embora o «Público» não seja muitas vezes objetivo, temos de reconhecer alguma razão quando, em editorial, analisou a posição do PS perante maria luís albuquerque de forma pouco lisonjeira: “Já o Partido Socialista, que teve a iniciativa de chamar a ministra ao Parlamento com carácter de urgência, acabou por sair da audição fragilizado, já que se limitou a criticar as opções do Governo e do Banco de Portugal sem nunca dizer o que fariam os socialistas se fossem chamados a decidir. Nacionalizava-se o BES? Liquidava-se o banco? Recapitalizava-se como se fez no BCP, BPI e Banif?”
4. As limitações da atual Direção do PS e particularmente do seu ainda líder ficam bem evidenciadas nas sucessivas reações com que vem reagindo ao caso BES. Primeiro “descansado” com os esclarecimentos do governador do Banco de Portugal, depois “preocupado” quando o desastre se consumara e agora “surpreendido” com a forte probabilidade de despedimentos.
É só isto que António José Seguro tem a dizer?
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