Se marques mendes anuncia o aumento do IVA ao sábado e passos coelho o desmente ao domingo, que quer isto dizer?
Houve quem visse no episódio uma súbita zanga entre quem dá a notícia e quem a anuncia, mas essa não é ideia que partilho.
A presença semanal de marques mendes na SIC tem objetivos diferentes das dos demais comentadores televisivos: estes, de marcelo rebelo de sousa e José Sócrates, passando por Francisco Louçã, têm agenda própria e não estão ali para outra coisa que não seja darem a sua opinião pessoal de acordo com as ambições que legitimamente alimentam. Pelo contrário, mendes faz semanalmente o papel de bufo do que se passa nos bastidores do governo, pré-anunciando o que está quase a decidir-se ou, como agora foi exemplo, lançar um isco para ver que tipo de reação suscita.
Esta estratégia terá também três objetivos fundamentais segundo os estrategas da comunicação do governo:
· por um lado criar na opinião pública a ideia de que não será assim tão verdadeira a argumentação da oposição em como só podem esperar aumentos de impostos da ação governativa de passos coelho e de paulo portas. Não faltarão ingénuos a pensarem e a verbalizarem em filas de espera das finanças (aconteceu-me algo de semelhante esta semana na da Costa da Caparica!) que afinal o governo não é tão mau como o pintam e só faz aquilo a o obrigam a bancarrota da «responsabilidade dos socialistas»;
· por outro lado permite dar a ideia de que paulo portas e passos coelho não são tão unha com carne quanto parecem, abrindo a possibilidade de, depois das eleições legislativas do próximo ano, pelo menos um deles ser imprescindível para a coligação com os socialistas obrigando-os a manter o rumo austeritário, que lhes está no sangue;
· e enfim, «limpar» um pouco a imagem do «comentador» porque, revelando-o aparentemente distanciado do governo, lhe permite devolver a eficácia, quando, nas próximas vezes, ele lançar as mensagens pretendidas pelos que rodeiam passos e que não se revelem tão inócuas.
É provável que, nesta altura, passos coelho e maria luís albuquerque já possuam a anuência de Bruxelas para superarem o valor do défice a que estavam obrigados, até porque, por exemplo a França dificilmente o respeitará, obrigando a União a complacência maior do que quando só são os países do sul a violá-los. E por isso poderão apresentar um orçamento retificativo do tipo melhoral (nem faz bem, nem faz mal), depois de todos os danos já provocados.
Temos, assim, um «não caso» que apenas serviu para animar um fim-de-semana particularmente deficitário em notícias mais atrativas.
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