Foi mais um dia marcado pelo caso BES com maria luís albuquerque e carlos costa a serem ouvidos no parlamento para prosseguirem a campanha de fumo com que têm procurado iludir o verdadeiro esclarecimento para algumas das suspeições pertinentes surgidas nos últimos dias.
Apesar das muitas perguntas colocadas por diversos deputados da oposição, ambos não saíram do guião, que muito convenientemente concertaram para manter inexpugnável a carapaça defensiva atrás da qual se tentam proteger das críticas. Mas eles bem sabem como ela é frágil, sobretudo quando sujeita à prova da previsível sucessão de más notícias próprias de uma nova demonstração da Lei de Murphy. Onde tudo quanto puder correr mal, assim se verificará, e sempre na pior altura.
Não será difícil adivinhar sérias preocupações da direita em ver rebentar-lhe nas mãos a granada que, em tempos, tanto se esforçou por fazer explodir nas de José Sócrates quando ocorreu o caso BPN.
Por agora voltaram a ficar por explicar as razões do hiato temporal entre a deteção das primeiras indicações sobre as incongruências no aparente sucesso do grupo Espírito Santo (nomeadamente as informações facultadas por pedro queirós pereira ao Banco de Portugal) e a definição assumida neste domingo. Ou no que mediou entre a preparação da atual solução e a sua formalização permitindo a muitos depositantes e acionistas salvaguardarem o seu dinheiro (e porque, quando acontece este tipo de festança aparece sempre a tal Constança … que no caso se chama Goldman Sachs?)
Mas também a falácia com que nos querem convencer em como os contribuintes estarão sempre salvaguardados dos custos deste processo - um spinning, que está ainda a ser relativamente bem sucedido por parte dos marketeers do governo mediante a sua exaustiva repetição junto da opinião pública. E, no entanto, desde quem administra o Fundo de Resolução ser nomeado pelo Banco de Portugal e pela ministra das Finanças até à própria participação da Caixa Geral de Depósitos nessa mutualização do empréstimo ao Novo Banco, é claríssima a utilização de dinheiros públicos. A ministra das Finanças candidata-se a um óscar de interpretação pela convicção com que mente sem corar o suficiente para que a base da sua maquilhagem o não denuncie.
Mas a estratégia não envolveu apenas os dois protagonistas hoje ouvidos na Assembleia, pois também os deputados da maioria vieram ensaiar outra estratégia oportunista e sem ponta de vergonha ao procurar a comparação entre a solução do governo Sócrates para o BPN e o que agora está a ser ensaiado para o BES. Como se já em 2008 existissem as diretivas europeias, que exequibilizam este modelo de nacionalização de um banco - mesmo não assumido enquanto tal! - e que deram uma saída momentaneamente airosa a carlos costa e maria luís albuquerque.
Nos próximos dias o terramoto BES continuará a conhecer novas e imprevisíveis réplicas: a demissão de Henrique Granadeiro ou a queda das ações dos bancos na bolsa portuguesa e a sua contaminação a todas as praças europeias vieram hoje confirmar que o cenário dos próximos dias continuará particularmente instável para quem deu a cara, e quem atrás dela se escondeu, para aprovar esta solução.
Este ano a meteorologia tem impedido os repórteres das televisões de voltarem a repetir o velho número dos «cenários dantescos», mas a vertigem com que os acontecimentos vão fluindo no mundo financeiro ameaça ser infernal.
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