O que se passa com o ainda secretário-geral do Partido Socialista nem sequer é defeito. Se o fosse poderíamos mandá-lo reparar e estava garantida uma possível solução. O pior é que se trata de feitio.
Quando foi ao governador do Banco de Portugal pedir explicações sobre o BES e saiu cá para fora todo contente por se sentir mais descansado, colocou-se em situação caricata perante o subsequente, descalabro das instituições pertencentes ao universo Espírito Santo.
Quando reuniu com passos coelho para discutir quem viria a ser o comissário português na União Europeia, pôs-se a jeito para o que se seguiu: com a escolha de carlos moedas, o ainda primeiro-ministro mostrou ao país quem manda, cobrindo de ridículo um opositor sem verticalidade, capaz de se vergar a fazer o «jogo do diálogo», que aquele nunca cumpre. Ao condenar a nomeação de um dos principais homens de mão da troika no governo, Seguro parecia, já não tanto, o «menino da lágrima», mas o marido enganado das comédias de Molière.
Na entrevista à «Visão» reconhece: “não sou um bom vendedor de mim próprio.” E, de facto, todo o seu comportamento revela uma fragilidade nas convicções, que culmina na repetição desse prodígio de credulidade, que é a afirmação: “anulei-me muito, interna mente. Quando assumi a liderança estáva mos de pés e mãos atadas por causa de um memorando que não discuti, não negociei (…) mas que tinha de honrar.”
Que melhor exemplo de sandice se pode encontrar sobre os seus estados de alma? Quantas vezes encontrará razões para se «anular», ele que já tão nítido nulo se revela?
Na mesma conversa com o jornalista Miguel Carvalho, demonstra, mais do que uma vez que os seus verdadeiros adversários nunca foram o PSD, nem o CDS, já que para eles reservou uma «conduta responsável»: “Numa Comissão Nacional, em Évora, (…) disse: estou a fazer uma oposição res ponsável, concentrada no futuro, e lamento que aqueles que me atacam sejam os mesmos que assinaram o memorando.”
Desde a primeira hora decidiu seguir outro caminho, que não o apontado pelos defensores de uma oposição sem concessões à direita: “Houve no PS quem quisesse fazer um confronto com este Governo, na base do ajuste de contas. Consi derei que não devia ser ponta de lança disso.” Por isso ufana-se de ter desiludido os que sempre recusaram o assumido corte com a herança positiva deixada pelos governos de José Sócrates e não embarcavam na narrativa do governo, que tão prestimosamente subscreveu: “Para quem entendia que devia prolongar a narrativa de que estava tudo bem e de que foi este Governo que estragou tudo, natu ralmente não correspondi às expetativas.”
A entrevista mostra, pois, um homem ressabiado com quantos o tinham remetido para o merecido lugar de figurante nas decisões políticas do partido e do país. A aposta foi para a criação de uma espécie de «novo rumo» em total dissonância com o anterior.
Ao longo destes três anos terá julgado adequada a tática escolhida: aparentemente o poder viria a cair-lhe nas mãos sem pressas. Mas não só a direita se revelou mais hábil em explorar-lhe as fraquezas do que ajuizara, como internamente os militantes perderam a paciência com a sua falta de Visão para o partido e para o país e, sobretudo, com essa pífia ambição de querer ganhar por curta margem para diluir em forçosa coligação as responsabilidades, que sabe demasiado pesadas para por si serem exclusivamente arcadas. Ele nunca imaginou que o comando nunca deve recair num só chefe ou no pequeno núcleo que lhe canta améns, mas na força de todos para que um verdadeiro líder seja capaz de mobilizar, primeiro os seus apoiantes, e depois todos os cidadãos… Aquilo que António Costa está a propor!
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