sábado, 30 de agosto de 2014

Responsabilidade, o gosto de agir e a tranquilidade perante os desafios eleitorais

A entrevista de Fátima Campos Ferreira a António Costa serviu para clarificar três das suas principais qualidades e às quais os seus detratores seguristas tudo fazem por omitir: o enorme sentido de responsabilidade, o gosto por funções executivas e a tranquilidade com que encara cada pleito eleitoral.
A primeira daquelas qualidades evidenciou-a logo aos 13 anos quando a Revolução de Abril veio perturbar o normal funcionamento das escolas e a solução passou por garantir passagens administrativas aos alunos impedidos de ter as aulas previstas. O jovem António Costa decidiu, então, repetir o ano para não enfrentar insuficientemente preparado o passo seguinte na sua escolaridade.
O mesmo rigor demonstrou mais tarde, durante o governo de António Guterres quando este o convidou para substituir António Vitorino na pasta da Defesa. O jovem António Costa, então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares não considerou ainda ter a maturidade suficiente para tutelar as forças armadas e optou por rejeitar o convite.
Com António Costa temos, pois, a garantia de um político sério e competente, que nunca tenta dar passos mais largos do que a perna para não falhar. Por isso mesmo, ao apresentar-se como candidato a primeiro-ministro pelo Partido Socialista sabemo-lo ciente dos exigentes desafios que o esperam e das formas mais adequadas para os superar.
Assim tivéssemos esse sentido de responsabilidade em António José Seguro, cujas competências só puderam ser avaliadas nestes três anos como secretário-geral do PS e com resultados mais do que duvidosos: para além de não ter aproveitado o facto de contarmos com um dos governos mais impopulares desde o 25 de abril para alavancar o apoio popular ao seu projeto, este nunca foi mais do que uma manta de retalhos dividida por 80 medidas, que nem sequer saíram da sua lavra, pelo que o vimos titubear frequentemente perante os jornalistas quando instado a comentar o momento político, ora pronunciando-se numa direção numas alturas, ora seguindo na contrária logo a seguir…
Seguro como primeiro-ministro só pode assustar quem dele tem a noção de uma mente gelatinosa, que abana consoante a forma como as circunstâncias a influenciam.
Mas António Costa também manifestou a sua preferência pelas funções, que lhe permitam fazer, mais do dar-se à retórica dos discursos parlamentares. Por isso mesmo olhamos para o seu currículo e ele é brilhante, quer como advogado, quer como membro dos governos de Guterres e de Sócrates, quer como vice-presidente do Parlamento Europeu, quer enfim como autarca lisboeta, que conseguiu em duas eleições consecutivas quase duplicar a votação do respetivo eleitorado, manifestamente agradado com a forma como tem levado por diante a transformação da capital.
Em comparação com tal currículo, o que tem Seguro para apresentar: algum diploma legislativo da sua lavra que tenha mudado algo de concreto na vida dos portugueses? Ou, quer no parlamento português, quer no europeu, fez mais do que emitir uns discursos inócuos ou esconder-se no anonimato das filas mais recuadas?
Mas, para além dessas duas qualidades, António Costa tem outra, que falta manifestamente a Seguro: a tranquilidade com que aguarda o veredito dos eleitores. Quando se tratou de enfrentar a CDU em Loures e quase vencê-la (ficou a 0,7%), não teve qualquer receio. Como não viu qualquer problema em sair do governo de Sócrates para derrotar a direita em Lisboa, quando ela parecia aí solidamente instalada desde que tinha derrotado João Soares (porque será que os crónicos derrotados surgem invariavelmente ao lado de Seguro?).
Olhando para o ainda secretário-geral vemos como ficou em pânico com a disponibilidade de António Costa para o substituir e arranjou o expediente das diretas (com que sempre estivera em desacordo!) para prolongar por quatro meses esta indefinição na liderança do PS, porventura pensando que se esbateria o efeito da novidade e com algumas chapeladas em Coimbra ou em Braga conseguiria manter-se no seu frágil trono. 
Razão tem Costa quando diz que quem encara um processo eleitoral com tal intranquilidade não merece ser eleito. Mas compreende-se: António Costa já demonstrou capacidades para ter vida para além do Partido enquanto Seguro, sem ele, como conseguirá evitar o merecido anonimato?

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