quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O carreiro que já lá vem !

Embora disso pouco falem os comentadores televisivos ou os que professam as suas doutas autoridades nos jornais, mas um vento novo já anda a pairar por essa Europa fora.  Bem podem os senhores da troika voltar a este cantinho à beira mar plantado em outubro para, sobretudo, ridicularizarem o célebre relógio de paulo portas ou Hollande purgar o governo de Manuel Valls para não indispor a senhora Merkel, que a realidade torna-se incontornável e vinga os seus fortes argumentos.
Não deixa, aliás, de ser paradoxal que o ministro Arnaud Montebourg  agora afastado por exigir o fim das políticas de austeridade no hexágono (decorem-lhe o nome porque será alguém determinante na política europeia dos próximos anos) se veja implicitamente aprovado por Mario Draghi que acaba de anunciar o recurso ao programa do “quantitative easing” para infletir a estagnação de toda a zona euro através da injeção de dinheiro nas economias.
Bem barafustou Jens Weidmann, que lidera o banco central alemão e constitui com Schäuble, o duo responsável pelo fundamentalismo ideológico destes últimos três anos. Ciente da sua razão Draghi decidiu dar força aos propósitos já anunciados por Juncker em promover políticas de crescimento económico em vez da rendição à deflação na origem dos atuais níveis de desemprego e de pauperização das populações mais desfavorecidas.
Lamenta-se, pois, que Hollande continue a demonstrar quão equívoca foi a sua eleição. O político apostado em levar a sério a guerra dos banqueiros aos cidadãos, rendeu-se-lhes sem sequer abrir a primeira escaramuça. E, pior ainda, viu os indicadores desmentirem uma das suas expectativas mais erradas: a de que, reduzindo os impostos às empresas, elas iriam apostar no investimento e na contratação de novos colaboradores, quando afinal elas embolsaram a poupança fiscal e mantiveram a lógica de nem investirem, nem contratarem.
A exemplo do que se passa em Portugal, o Partido Socialista francês viu-se assaltado a nível da sua direção por políticos que há muito perderam de vista o significado dos valores igualitários e de justiça, que os deveriam nortear. Hoje não se vislumbra grande diferença de estratégia entre os atuais dirigentes socialistas franceses e os seus adversários da direita. E, lamentavelmente, é a extrema-direita quem anda a beneficiar com essa descaracterização ideológica empunhando bandeiras outrora pertencentes ao Partido Comunista e a cuja pala conseguem arrastar multidões para a defesa da sua verdadeira agenda xenófoba e racista.
Infelizmente para os franceses, Valls e Hollande ainda não aprenderam a lição em que os portugueses já serviram de cobaias: que o ataque ao Estado Social e à redução dos direitos laborais não constituem solução para os verdadeiros problemas, que residem nos novos desafios trazidos por um euro mal desenhado, por um alargamento demasiado apressado da União Europeia e pela globalização sem qualquer condicionalismo regulador (mormente que penalizasse quem produz bens transacionáveis à custa da exploração do trabalho infantil e da inexistência de regras de segurança e saúde no trabalho).
Embora não se possa transpor diretamente a divergência entre Valls e Montebourg para o PS português - o primeiro tem em relação a Seguro uma coerência de pensamento, que em nada se compara com o «nem carne nem peixe» do nosso ainda «líder» - pode-se constatar que António Costa tem condições para associar-se aos que na família socialista e social-democrata europeia já exigem a alternativa às atuais políticas para forçar uma definitiva de rumo.
No presente e no futuro próximo, merkel, Valls, Hollande, passos coelho ou o seu gémeo Seguro são rostos do passado. Já não contam.
O futuro é dos que, como António Costa e Arnaud Montebourg, sabem que este carreiro não conduz a lado nenhum e já apontam para o outro que já lá vem.


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