O populismo do tipo que já pulula em muitos países europeus e particularmente bem sucedido nas últimas eleições europeias - vejam-se os sucessos de Nigel Farage e do seu UKIP na Grã-Bretanha ou de Marine Le Pen em França! - ainda não atingiu entre nós tais dimensões mas, se não nos mostrarmos particularmente vigilantes, pode ocorrer a muito curto prazo. É que não faltam exemplos de concorrentes ao concurso do maior demagogo nacional!
No Algarve passos coelho retomou - e em versão ainda mais repulsiva! - a velha tentativa de criar guerras entre filhos e pais, avós e netos, a propósito das pensões de reforma. Acenando com a insustentabilidade do sistema, ele quer criar as condições adequadas para que, muito proximamente, e através do plafonamento nos descontos, as seguradoras privadas fiquem com uma boa parte das verbas hoje descontadas para a Segurança Social.
Por seu lado e enquanto paulo portas não volta e enfiar o seu conhecido boné para regressar às feiras e às lotas, é António José Seguro quem surge a ganhar-lhe a palma com ideias muito do agrado da típica ideologia do taxista como a proposta da redução do número de deputados. À falta de ideias estratégicas para resolver os impasses da nossa economia, o ainda secretário-geral embarca num tipo de discurso demagógico, que acredita poder render-lhe votos.
Mas a maior ameaça de surgimento de um beppe grilo à portuguesa vem de marinho pinto, que bate todos os concorrentes em prosápia antipolíticos e não esconde um projeto pessoal com um cúmplice potencial já anunciado: o mesmo António José Seguro.
Quando este último anunciou que rejeita coligações com o PSD, o CDS, o PCP e o Bloco, deveria ter em mente a votação significativa de marinho pinto e a perspetiva de tê-lo como parceiro preferencial de coligação. Só se essa hipótese se lhe gorasse é que optaria pela outra alternativa: a de delegar no referendo dos militantes a decisão de coligação, que não tem coragem para assumir por si mesmo.
Não admira, pois, que marinho pinto se tenha vindo intrometer esta semana na disputa interna do Partido Socialista disparando toda a sua artilharia contra António Costa. Ao “Expresso” ele fez estas ignóbeis declarações: “Costa não só despreza o que prometeu aos seus eleitores como faz tábua rasa da legitimidade dos mandatos dos outros. (…) Ele não se candidatou há um ano por oportunismo e candidata-se agora por oportunismo, porque sabe que o PS deverá ganhar as legislativas. Representa o tipo de políticos que eu combato.”
Mas olhando para as palavras e para os atos de marinho pinto encontramos um tipo de conduta indecorosa e ofensiva para a inteligência dos eleitores que o elegeram: anunciou desistir das funções de eurodeputado, porque considera “vergonhoso” o seu elevado salário, mesmo decidindo ficar ainda mais um ano a desempenhá-las - até às eleições legislativas -, porque se afirma pobre e necessitado do dinheiro, já que tem uma filha no estrangeiro.
Se fosse consequente com o nojo, que lhe causam as remunerações dos deputados em Estrasburgo, marinho pinto prescindia já delas e ganharia alguma legitimidade para fazer críticas. Mas querendo conciliar o melhor de dois mundos, quer passar por um crítico impetuoso do escandaloso salário dos políticos, mas embolsando-o enquanto não lhe surge a oportunidade de ainda mais auferir com um eventual cargo ministerial, quiçá uma sonhada reforma dourada em Belém.
Compreende-se, por isso, o seu ataque sórdido a António Costa: enquanto líder do maior Partido português ele é imune a essas formas de desrespeitar os eleitores, e trata-los como se fossem parvos. Mas é entendendo-os como tais, que passos coelho, Seguro ou marinho pinto prosseguirão as suas campanhas imundas...
A bem da higiene democrática todos eles têm de ser vassourados da política nacional...
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