quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Os discípulos de frei Tomás


Três partidos conseguiram apenas um deputado nas eleições de outubro e todos eles têm dado provas da completa injustificabilidade de ganharem assento na Assembleia da República. Joacine estoirou em poucas semanas a complacência, que pudesse haver para com a sua gaguez ao contrariar a lógica de qualquer partido de esquerda em condenar os crimes perpetrados pelos israelitas contra os palestinianos. O Ventura do Chega não consegue explicar porque escreveu uma tese universitária em completa contradição com o discurso xenófobo e racista, que lhe temos conhecido desde que, sem qualquer razão para isso, saiu do merecido anonimato. E o Cotrim da Iniciativa Liberal prima igualmente pela contradição de diabolizar qualquer apoio do Estado aos bancos em dificuldades, quando dele beneficiou ao assumir a direção do falido BPP, só aceitando o cargo quando dele teve efetivas garantias.
Principalmente no caso dos dois últimos verifica-se a regra de querer que olhemos para o que dizem e não para o que, anteriormente, fizeram. Razão para que lhes denunciemos a duplicidade esperando que quem se deixa vigarizar pelas suas palavras ganhe alguma lucidez.
Por estes dias tem sido, igualmente, curiosa a descabida presença de responsáveis católicos na nossa imprensa. O cardeal de Lisboa continua a ter tempo de antena em horário nobre na RTP como se a Igreja Católica mereça mais privilégios do que outras religiões e ponha em causa o imperativo de laicidade da comunicação social do Estado. Mas a intervenção mais elucidativa de uma certa forma de pensar dos bispos portugueses esteve bem explicitada na entrevista dada ao «Público» pelo titular da diocese do Porto, um tal Manuel Linda, que lamentou o fecho de 17 colégios após as medidas de racionalização dos contratos de associação com estabelecimentos do ensino privado e pretendeu lançar o alarme social sobre o fim do apoio aos «velhinhos» por parte de centros paroquiais, que «só» recebem do Estado 30% do que supostamente gastam com essa «ação social».
O que se conclui de tal entrevista é a intenção da Igreja Católica prosseguir nas ações caritativas, que justificam a falsa ideia de praticar o bem, mas afinal pagas pelo dinheiro de todos nós.
Que os crentes sejam convidados a participar nessa estratégia de afirmação da sua instituição na comunidade  não há nada a objetar. O problema é quererem que sejam todos os contribuintes, mesmo os ateus e agnósticos, a colaborar com dinheiro no que, há séculos, integra a sua estratégia proselitista. Porque os apoios aos mais desfavorecidos devem partir do Estado através das instituições públicas tuteladas pela Segurança Social. Só assim se verifica uma verdadeira separação entre o Estado e a Religião tal qual se consagra na nossa Constituição.

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