Os que lamentam a saída de Maria Flor Pedroso da Direção de Informação da RTP esquecem uma evidência, que se desenhou há mais de uma década, quando José Sócrates procurou - em vão! - contrariar a estratégia então gizada por quem vinha a implementar, de braço dado com setores da magistratura, uma operação de constante desgaste contra o Partido Socialista e contra a esquerda em geral.
A urdidura ganhou fôlego quando, nos governos de Cavaco Silva, a direita infiltrou os seus apaniguados nos meios de comunicação social do Estado e deles expurgou quantos poderiam referenciar-se como mais próximos das esquerdas. Marques Mendes, então com responsabilidades governativas no setor, foi um dos obreiros de tal ardil. Ao mesmo tempo o modelo de negócio liderado pelo semanário «O Jornal», e seu sucedâneo «Visão», era levado até à pré-falência para que pudesse ser adquirido por Pinto Balsemão, cuja empresa procurava monopolizar a informação distribuída aos portugueses, mormente através da SIC. De então para cá, os jornais, as revistas, a rádio e a televisão foram inteiramente comprados ou lançados por «investidores» cujo único objetivo é tê-los a emitirem as mensagens ideológicas, que melhor convenham aos seus interesses. Daí que cuidassem de manter o contínuo afastamento dos jornalistas mais avessos a servirem de meras marionetas dos seus titereiros.
As consequências estão à vista e, ainda recentemente, foram objeto de discussão mediática para a qual Marcelo não deixou de dar o costumeiro bitaite: sem credibilidade, que justifique a fidelidade dos seus leitores, a imprensa escrita está condenada e só subsídios estatais poderiam salvá-la. Mas que interesse teria um governo socialista em financiar quem só existe para o criticar à base de notícias distorcidas? Daí a obsessão dos setores ultramontanos do patronato em conseguirem o monopólio televisivo na esperança de conseguirem as almejadas audiências mediante um fluxo de desinformações tipo tabloide, que estupidifiquem ou, no mínimo, faça abúlicos, os eleitores das futuras eleições.
A compra da TVI pela Cofina ou as mais recentes saídas de jornalistas honestos do grupo SIC/Expresso - muitos deles a pretexto de terem idade para se reformarem! - segue o mesmo manual de procedimentos. Por seu lado a RTP, com José Rodrigues dos Santos, Fátima Campos Ferreira e, ultimamente, com Sandra Felgueiras na dianteira, dá o seu contributo para que esses setores do patronato completem o cerco de desinformação às esquerdas.
O permanente desgaste a que Maria Flor Pedroso foi sujeita até já não ver outra saída, que não a de atirar a toalha ao chão é disso explicita demonstração. Para quem vira a forma como Nuno Artur Silva fora corrido da Administração da RTP depois de uma campanha insidiosa dos mesmos que agora conseguiram a cabeça da jornalista, o desiderato nada teve de surpreendente. Como facilmente se entende que o breve momento da notícia sobre o apoio que mereceu de centena e meia de jornalistas a caucionarem a sua probidade, logo se viu esmagado pelas declarações dos que a acabaram de sanear e alegam violações deontológicas que fariam rir, vindas de quem vêm, mas que se revelam trágicas porque reveladoras quanto ao estado de degradação a que se chegou.
É claro que se o PS a quiser contrariar dando à informação dos canais da RTP uma objetividade, que de todo não têm, aqui d’el Rei que estão a atentar contra a Liberdade de Imprensa, como aconteceu com todo o alarido organizado contra o governo de Sócrates. Mas nós temos de questionar que raio de Liberdade de Imprensa é esta que dá uma versão monolítica do que se está a passar à nossa volta?
Sem grandes expetativas espero que Nuno Artur Silva, devidamente vacinado quanto ao vírus, que o afastou do canal estatal, encontre antídoto eficaz para contrariar o que ele representa atualmente. Convenhamos que a correção do abissal desequilíbrio informativo só pode passar pelo resgate da RTP`a quem ainda a controla porque da SIC ou da TVI nada de bom há que esperar...
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