sábado, 7 de dezembro de 2019

A luta em torno das alterações climáticas não pode reduzir-se ao combate entre gerações


A grande manifestação de Madrid em defesa de uma ação mais firme dos governos em prol da defesa da vida humana no planeta indicia, uma vez mais, a mudança de paradigma em curso nas nossas sociedades ocidentais, prenunciando o iminente óbito do individualismo puro e duro e a sua substituição pela valorização do esforço coletivo em prol do bem comum.
De súbito os conceitos de liberdade individual, que justificaram as invocações do «mérito» ou da «ganância» pura e dura para justificar a extrema riqueza de uns em desfavor de todos os outros, perdem força e deverão ser os fundos financeiros, e os que neles acobertam as comprometedoras identidades, a sentirem algo de novo a perfilar-se no horizonte e não propriamente ao seu gosto.
Nesse sentido entende-se que as autoridades espanholas tenham posto a jovem Greta Thunberg a recato da confusão em que se viu mergulhada, porque não faltarão os interessados em calar-lhe a indignação. Muito embora seja de repudiar que, sendo o alvo de uma ruidosa turba de contestatários, que invocam a sua imaturidade para dar conselhos aos mais velhos, também ela incorra no argumento contrário como se todos os governos fossem iguais na sua obsolescência e devessem ser os mais novos a ditarem-lhes o que devem fazer.
Ninguém duvida que importa ouvir os cientistas e auscultar-lhes as alternativas para evitar o possível apocalipse climático. Mas não se trata aqui de colocar as gerações a digladiarem-se entre si. Porque se o voluntarismo de uns pode ser importante, maior relevância assume o saber e a experiência dos que já muito tendo vivido usam a razão para conter os injustificados excessos da emoção.

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