quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O SNS e os fortes inimigos que o quererão derrotar


Não será fácil ao governo socialista concretizar as promessas relativas ao Serviço Nacional de Saúde tal qual foram anunciadas por António Costa na sua mensagem de natal. Há muitos anos que surgiram «empreendedores» decididos a transformar num negócio aquilo que deveria ser uma das prioridades do Estado no dever de garantir o bem-estar das populações e acreditar que vão prescindir do que lhes rende anualmente muitos milhões de euros é ilusão em que só um ingénuo pode crer. Sobretudo se, como já o demonstrou amiudadas vezes, Marcelo tudo fará para garantir a continuidade desses bons negócios em coerência com o seu voto de há quarenta anos quando era deputado e votou contra a existência desse SNS.
Por esta altura as empresas dos seguros de saúde, que auferem milhões à custa das mais valias entre o que efetivamente pagam aos clientes e o que deles recebem, estarão a agitar o seu lobby de forma a não verem escapulir-se da sua carteira quem tarda em compreender o logro por elas representado. E conjugar-se-ão com os investidores em hospitais e clínicas privadas, que sabem condenado o seu modelo de negócio se o SNS for tão universal e gratuito quanto a Constituição contempla. Se daqui a três ou quatro anos o governo conseguir que sejam atempadamente prestados serviços de qualidade com taxas moderadoras quase inexistentes para que servirá o megahospital que a CUF está a construir numa das mais movimentadas avenidas de Lisboa e que, só por si, promete causar uma nova sangria de cerca de mil médicos hoje vinculados ao SNS?
Bem pode o governo drenar mais novecentos milhões de euros, que os telejornais darão particular destaque a notícias de qualquer caso sobre o que possa correr mal nos hospitais públicos por muito que seja exceção numa realidade quase toda ela merecedora de justificados elogios. E haverá sempre uma Ordem dos Médicos a travar a formação de novos profissionais de forma a causar um tal défice de oferta, que situações como a vivida com a Pediatria no Hospital Garcia da Orta se repliquem com frequência crescente. Porque há esse outro condicionalismo de ver a Europa em geral a ter grave deficit de médicos e não ser difícil prever a atração para os países mais ricos dos que foram formados nos menos abonados.
Ao ouvir um José Gomes Ferreira a perorar na SIC sobre a mensagem de António Costa pressente-se-lhe a expetativa de vir a usar e abusar do argumento de qualquer avanço no SNS mais não constituir do que «propaganda». Mas podemos aventar se, lá no íntimo, ele não sente o receio de se enganar e ver os patrões para quem serve de marioneta vir a despedi-lo por se ir revelando cada vez mais fora do prazo...

Sem comentários:

Enviar um comentário