terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Os sinais que importa não ignorar


Uma das muitas injustiças relacionadas com as alterações climáticas tem a ver com o facto das consequências negativas acontecerem nas geografias periféricas em relação aquelas onde maior poluição se produz. Embora todos saibamos como os ursos polares andam a extinguir-se, esfomeados ou afogados por nadarem até à exaustão nos mares onde antes sabiam gelada a superfície, ou que populações ribeirinhas das ilhas do Pacífico ou do Bangladesh veem inundadas as terras e destruídas as culturas, tudo isso passa-se tão longe do ocidente que os seus líderes tardam em tomar as medidas exigidas pela emergência climática, arriscando a que, quando as tomem já seja tarde demais.
Talvez as tragédias causadas por incêndios descontrolados ou furacões violentíssimos deem para suscitar algum rebate de consciência. Ou que, mesmo no centro da Europa, populações tenham de ser transferidas dos vales férteis à beira dos Alpes, cujos glaciares vão derretendo e retirando ao frágil permafrost a capacidade de manter coladas as escarpas que tenderão a colapsar sob a forma de perigosos aluimentos de terras e rochas. Quando a frouxidão dos governos perante os perigos iminentes passarem a traduzir-se em vítimas caucasianas e ricas talvez cresça a consciência de não ser possível adiar por mais tempo a revolução político-social, que substitua este modelo económico em roda livre, que a nada mais liga senão ao lucro dos que, à sua pala, acumulam obscenas fortunas.
Nesta mesma Europa outro fenómeno está a constatar-se no Mar Báltico: à conta da acidificação e da eutrofização das suas águas as populações de arenque, tão fundamentais para manterem o equilíbrio do ecossistema em que vivem, estão a reduzir-se aceleradamente, confrontando quem vive da sua pesca e das indústrias associadas a verem condenado o seu modo de vida.
E, cereja (podre) em cima do infecto bolo, pode constituir outra descoberta recente dos cientistas: sob o gelo milenar existem na região ocidental da Antártica cerca de cento e cinquenta vulcões cujo adormecimento se deve à intensa camada de gelo que os tem coberto e arrefecido. Ora, acaso o degelo prossiga ao ritmo que vem acontecendo, crescem as probabilidades de ver o continente austral replicar a Islândia na manifestação de erupções, que não só agravarão os efeitos das atividades humanas na atmosfera, mas também mais rapidamente promoverão a subida do nível dos oceanos pondo em causa muitas das megalópoles que, em todos os continentes, vivem à sua beira.
Quer queiram, quer não, os dirigentes políticos do futuro imediato confrontar-se-ão com a urgência de rapidamente tomarem as medidas, que melhorem as possibilidades de resiliência da espécie humana, nem que para tal atirem de vez para o lixo o capitalismo, substituindo-o por um ecossocialismo, que dê resposta aos constrangimentos, que  só os cegos não quererão ver.

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