sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Reino Unido até quando?


Fiquei chateado com a vitória de Boris Johnson nas eleições de ontem no Reino Unido? Nem pensar, porque a política não é assunto que mereça reações emotivas e, pelo contrário, incita a reflexões estritamente racionais. Nesse sentido, Jeremy Corbyn até pode dar-se por satisfeito por ter tido esta derrota histórica, já que ela seria ainda mais avassaladora se, formando governo de coligação com os nacionalistas escoceses e com os liberais-democratas, voltasse à pugna eleitoral com o saldo da separação definitiva da Escócia. Porque não tenhamos dúvidas em como Nicola Sturgeon, vendo avalizada a vocação independentista do seu partido com a eleição de 48 deputados para Westminster dos 59 em liça na Escócia, depressa se apressaria a conseguir um segundo referendo enquanto o parceiro da coligação potencial seria fervido em lume forte pelos furiosos brexiteers. Nesse sentido acabará por ser Boris Johnson a merecer a ambicionada “estátua” de ser o primeiro-ministro que, querendo sair da Europa, terá visto o Reino Unido desunir-se definitivamente.
Há obviamente o problema dos portugueses aí emigrados eventualmente instados a regressar. Mas não necessitamos urgentemente dos médicos e dos enfermeiros, que foram ali procurar melhores condições de vida? Provavelmente as comparadas expectativas de futuro valorizarão as oferecidas por Portugal, com o rumo traçado por António Costa desde 2015 e a avançar com solidez e determinação, quando, ao invés, ainda residem num país em navegação à vista tendo ao leme um egomaníaco manipulado por eminências pardas dispostas a acentuar as opções ultraliberais, as que porão seriamente em causa o Serviço Nacional de Saúde onde tantos portugueses trabalham.
Se a política fosse apenas a que se espera no curto prazo, a vitória de Johnson poderia preocupar-nos, embora não faltem em Bruxelas ou Estrasburgo os que tudo fazem para torpedear o pouco que resta do projeto europeu no que chegou a ter de melhor. Desde os tempos de Thatcher que os britânicos sempre foram os refilões, que mais queriam para si e menos pretendiam contribuir para os outros. Nesse sentido a saída da União Europeia nunca constituirá mais do que a pedra definitivamente expulsa dum dos sapatos com que prosseguirá a tormentosa caminhada para um futuro ainda assaz duvidoso. Quanto aos que diabolizaram Corbyn bem podem esperar pelo ricochete: os militantes mais jovens do partido não se identificam com os blairistas, apostando bem mais nas opções socialistas do que nas bolorentas terceiras vias tão ansiadas por quantos das ideias de esquerda há muito se dissociaram.

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