quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Das razões para continuar desagradado


Julgaria definitivamente ajuizado o lamentável episódio da vinda de Mike Pompeo e de Benjamin Netanyahu a Portugal num texto aqui inserido no dia de ontem, mas ele ainda suscita dois comentários complementares.
Por um lado o expectável, mas inaceitável aviso do cão de fila de Trump a respeito das tentações lusas em possibilitar a entrada em força da Huawei em Portugal através do projeto 5G. Como se só os chineses usassem a sua marca para imitarem o que, de sobra, sabemos fazerem os norte-americanos através da NSA como Edward Snowden bem no-lo demonstrou.  Para a Casa Branca ter milhares de servidores a vasculharem tudo o que falamos, escrevemos ou consultamos através dos smartphones  ou dos computadores só pode ser bom para a nossa segurança, enquanto os propósitos similares dos chineses constituíram estratégias inerentes à sua conduta totalitária. Algo semelhante ao provérbio português, que leva o roto dizer ao nu porque não se veste?
Por outro lado, e embora a pretexto das supostas ameaças iranianas no Médio Oriente, percebe-se bem o verdadeiro motivo porque Netanyahu tanto se esforçou no encontro com o interlocutor norte-americano. Ele sabe que as acusações de corrupção e suborno levá-lo-ão ao mesmo sítio onde o antecessor Ehud Olmert tem passado os anos mais recentes - a prisão. Daí que, mesmo ameaçando incendiar toda a região, ponha os interesses pessoais acima dos do seu povo, pressionando a Casa Branca a não só considerar legais os colonatos implantados onde deveria ser território exclusivamente palestiniano à luz dos Acordos de Oslo, mas acrescentando-lhe a cereja em cima do bolo, que seria a posse definitiva do vale do rio Jordão, ou seja, a zona mais rica em lençóis freáticos desse mesmo espaço geográfico. Com essa concessão e a promessa de intervirem militarmente junto do seu aliado em caso de algum previsível ataque, Netanyahu julga possível o voto no seu partido de muitos dos que até agora lhe viraram as costas. Mas a manobra eleitoralista parece tão óbvia, que será de questionar se mesmo os sionistas mais radicais poderão deixar-se iludir por tão vãs esperanças. É que os equilíbrios geoestratégicos deste lado do Hemisfério Norte compadece-se pouco com os interesses indignos de um punhado de gente sem escrúpulos quanto à forma como sempre sabotou os esforços de paz de forma a manter o esbulho sobre o que, legitimamente, caberia ao povo palestiniano.
Uma vez mais reitero o desgosto de ter visto Augusto Santos Silva e António Costa alinharem em expedientes que, em nada beneficiam o povo português e, pelo contrário, muito dano lhe podem causar. E reconheço a habilidade de Marcelo em, desta feita, pôr-se fininho de fora...

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