terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Os paradimas de crescimento que a realidade põe em causa


Decorre nesta altura o segundo dia da Cimeira do Clima em Madrid e a passagem de Greta Thunberg por Lisboa. De tais notícias pouco há a acrescentar ao que tem sido dito e escrito, quer quanto á importância do evento, quer ao papel desempenhado pela jovem ativista sueca na criação de uma crescente implicação da juventude na contestação ao atual estado das coisas por esse mundo fora.
Daí que valha a pena focarmo-nos noutra constatação agora feita pelo site The Conversation, segundo o qual as alterações climáticas começaram a ser inicialmente identificadas e conceptualizadas como uma «externalidade», um problema ambiental clássico a ser gerido da forma do costume, ou seja, sem pôr em causa os modos de produção, de consumir e de modelos de desenvolvimento.. Daí que, ao analisarem-se 77 mil artigos publicados pelas nove mais importantes revistas de ciências económicas desde a sua criação, apenas 57 versaram o tema. Pior ainda comprova-se que o Quartely Journal of Economics, que costuma ser a mais citado nas análises económicas, nem sequer uma vez dedicou atenção ao problema.
Compreende-se esse alheamento autista sobre a profunda transformação ambiental vivida atualmente no planeta e que tantas e tão justificadas apreensões suscitam transversalmente em todas as latitudes. É que a formação das sucessivas gerações de economistas pressupõe a incontornável preocupação em assegurar as melhores estratégias para o crescimento económico, produzindo-se e consumindo-se sempre mais e com a população mundial sempre a aumentar. Ora as circunstâncias estão a exigir urgentes alterações nos paradigmas tidos como axiomáticos: não só virá a impreterível necessidade de cumprir um decrescimento planificado das economias, que acautele uma mais justa distribuição de rendimentos, como as legislações a nível global deverão conter os crescimentos populacionais através de políticas ativas de planeamento familiar.
Tais estratégias colidem com as cristalizadas conceções de diversos papas: quer os desfasados gurus da economia, que insistem no seu credo ultraliberal, quer os das várias religiões, que continuam a pugnar para que as mulheres continuem a gerar os filhos que os seus supostos deuses lhes estariam a «oferecer», independentemente deles virem a morrer precocemente de doenças ou nos perigosos trajetos para a emigração até sociedade julgadas ricas aonde são indesejados e dificilmente encontrarão melhor sustento que o negado pelas infaustas geografias donde provém.

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