sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Quando a cabeça parece não ter juízo...


É bem conhecida a regra segundo a qual não se deve esquecer o que a História pode ensinar sob pena de se repetirem os erros em tempos cometidos. Ora, quer nas posições assumidas por dirigentes dos partidos à esquerda do PS, quer sobretudo pelos seus mais emotivos apoiantes nas redes sociais, parece regressado aquele caldo de cultura em que se priorizam as críticas ao governo em vez de serem justificadamente dirigidas às diversas direitas, desde as alaranjadas, momentaneamente abúlicas, até às mais extremas, não muito diferentes da subjacente mentalidade fascista.
Esses inimigos de estimação dos socialistas esquecem que, a exemplo do sucedido em 2011, quando as direitas contaram com a sua colaboração para imporem a vinda da troika e apossarem-se das rédeas da governação, nem o PCP, nem o Bloco terão a lucrar com a queda eleitoral do PS. Pelo contrário todas as machadadas no apoio eleitoral dadas no partido, que elegem como fulcro da sua contestação, só engrossam os apoios ao campo contrário. É essa uma das lições, que nunca deveriam esquecer: a lógica do quanto pior melhor em nada os favorece e só tende a prejudicar significativamente os que consideram como sua base social de apoio. Os funcionários públicos e os reformados que sofreram cortes nos rendimentos durante o desgoverno de Passos Coelho, bem como os que perderam empregos e foram condenados a procura-los na emigração, bem podem agradecer a Louçã e a Jerónimo de Sousa  quando decidiram associar-se àquele político de má memória para lhe facilitarem o acesso ao cargo de primeiro-ministro.
Hoje li que alguém considerou uma afronta o discurso de Natal de António Costa por, ainda no ano em curso, não ter dado cobertura ao fim das PPP’s no setor da saúde. Essa posição espelha na perfeição a incapacidade de olhar para a realidade sem nela ponderar todos os fatores que a condicionam. Ou será que esses críticos à esquerda ignoram a ativa militância de Marcelo Rebelo de Sousa contra a ostracização dos interesses privados no setor? Valerá a pena abrir uma guerra aberta com Belém, quando o mesmo objetivo pode ser cumprido de forma mais inteligente, mesmo que não tão ostensivamente imediata?
Essas vozes à esquerda querem ignorar que, quotidianamente, o governo enfrenta o esforço de demolição do que vai conseguindo, feito através de uma comunicação social que o toma por seu inimigo e perante um sistema judicial com ela coligado (vide o indecoroso comportamento de Carlos Alexandre no suposto julgamento do caso Tancos!). Em vez de quererem conjugar os esforços à esquerda para adiar o mais possível o regresso das direitas ao poder, agem como se o quisessem antecipar. E esse é o tipo de comportamento que já em tempos alguém qualificou muito assisadamente como um tipo de doença infantil, que urge curar.

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