A concluir este ciclo de polémicas com os leitores temos o comentário de Jaime Santos a respeito do texto em que manifestava apreço e fazia votos de longa vida para a atual maioria parlamentar.
Eis o conteúdo do comentário do nosso leitor:
Há infelizmente um perigo neste tipo de discurso. As desavenças entre as Esquerdas são programáticas. As diferentes Esquerdas acreditam em causas bem distintas. Dentro da Direita Democrática, todos aceitam de uma maneira ou de outra o primado da liberdade individual, a Economia de Mercado e o Parlamentarismo. Nas Esquerdas, isto não acontece. O programa ideológico e de governação do PS (refiro-me ao que está escrito, não ao virtual que poderá estar na cabeça dos militantes do PS), por exemplo, está bem mais próximo do do PSD (do que está escrito, não da prática política de um Passos Coelho, por exemplo) do que dos programas de BE e PCP-PEV que são anti-capitalistas (e Marxista-Leninista, no caso do programa ideológico do PCP).
O pragmatismo das diferentes Esquerdas não nos deveria fazer esquecer isto. Não se tente amalgamar tudo com o risco da perda de identidade de cada um dos Partidos que constituem a nossa improvável coligação. É que, tarde ou cedo, quando as coisas voltarem a correr mal (porque voltam sempre) estas divergências virão de novo bem ao de cima...
Uma vez mais tenho de situar a minha divergência de princípio com Jaime Santos, porque ele próprio reconhece que os programas escritos dos vários partidos não coincidem obrigatoriamente com o pulsar dos militantes ou com as visões estratégicas dos dirigentes. E o que atualmente une as esquerdas - o favorecimento dos que estão nos percentis dos menores rendimentos - é cimento bem mais solido do que os fatores que podem desagregar a coligação parlamentar. Até porque o conceito de Liberdade tem de ser bem escalpelizado, porque vem sendo usado e abusado por quem dela tem feito argumento oportunista para melhor cumprir os seus desígnios (vide como é abusivamente utilizada para dar cobertura às fugas fiscais ou para mostrar violações em supostos programas de informação!).
Confesso que tenho estado a ver sucessivamente comprometido o calendário de mudança qualitativa capaz de devolver às esquerdas europeias a capacidade de iniciativa necessária para infletir o jogo de forças políticas a nível europeu.
Será provável que o Labour inglês e o Partido Socialista francês averbem derrotas significativas nos escrutínios das próximas semanas e que o SPD de Martin Schulz regresse à Oposição após a eleição de setembro. Mas derrotas em batalhas, não significam a perda da guerra. E, na realidade, as lutas de classes manifestar-se-ão com vigor acrescido tão só prossigam as agendas das direitas para acelerarem o ritmo das desigualdades entre os plutocratas e a generalidade dos cidadãos.
A História é rica em exemplos de súbitos incêndios incendiarem repentinamente as plácidas pradarias. Não foi isso que sucedeu há quase meio século em França, quando no início de maio o «Le Monde» identificava o clima social como entediante para logo chocar de frente com tudo quanto se seguiu nas semanas seguintes?
Como diz o Brecht “aquele que está vivo não diga nunca Nunca!” E eu alimento a esperança de ainda voltar a viver dias claros e manhãs límpidas como as pressentidas em abril de 1974.
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