Não é que acredite numa mudança tão rápida quanto possível no país vizinho, mas fiquei satisfeito com a vitória de Pedro Sanchez sobre Susana Diaz nas primárias deste fim-de-semana, que definiram quem será o próximo líder socialista. De nada serviu à andaluza boicotar e organizar o golpe interno, que derrubara o rival: as bases deram-lhe agora o devido troco.
A exemplo do que vem sucedendo em muitos dos países da União Europeia os socialistas viam-se em Espanha confrontados com o dilema, que os tem condicionado nos tempos mais recentes: deveriam abandonar de vez os seus princípios e almejarem a uma gestão tão eficiente quanto possível de um capitalismo que lhes não dá qualquer possibilidade de controle sobre as operações financeiras, ou regressar aos seus valores originais, buscando em coligações à esquerda a solução para o seu recente definhamento.
Susana Diaz, a exemplo de Manuel Valls em França ou Matteo Renzi em Itália, personificava a primeira opção, que tem significado a perda sucessiva de eleitorado e a aparente condenação dos partidos socialistas à irrelevância.
Sanchez afirma ter aprendido o exemplo português e apresenta-se disposto a estabelecer pontes, quer com o Podemos, quer com a Izquierda Unida, para pôr cobro ao longo consulado de Mariano Rajoy.
Para os socialistas europeus prossegue o combate entre o velho e o novo, que perspetiva resultados promissores a médio prazo.
A exemplo do sucedido recentemente em França ou em Inglaterra, os militantes mais velhos acumulam derrotas ao apostarem no mais do mesmo, que já deu os conhecidos fracassos na Grécia ou na Holanda. Pelo contrário, os mais jovens, os que representam o futuro de ambos os partidos, já revelam força suficiente para prevalecerem nas eleições internas, mas ainda não conseguem extrapolar-lhes os resultados para as da globalidade dos cidadãos dos respetivos países. Muito provavelmente, porque os líderes a quem garantiram as recentes vitórias (Corbyn, Hamon) não possuem as características adequadas para convencerem os eleitorados: nenhum deles tem a capacidade e a inteligência estratégica de António Costa, nem a argúcia e a aparência jovem do canadiano Justin Trudeau ou do holandês Jesse Klaver.
Ao contar com o apoio de todos os antigos líderes do PSOE - desde Felipe Gonzalez a Zapatero - Susana Diaz não compreendeu que as bases do partido não acreditam nas velhas receitas, que o conduziram às sucessivas derrotas. Querem algo novo e Pedro Sanchez - porque já se comprovou a sua inépcia - poderá ser o líder de transição para um outro, da sua geração ou mais novo, que devolva ao socialismo espanhol a tradição combativa em defesa de maior justiça e igualdade.
Pela forma como as coisas andam a evoluir, o Partido Socialista português ainda terá de, por algum tempo, aguentar-se isoladamente como o farol, que ilumina o caminho a ser percorrido pelos seus congéneres europeus.
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