Quando já poderíamos supor os portugueses suficientemente vacinados sobre o tipo de estratégia desinformativa que, quase os fez acreditar na bondade da continuação da coligação PSD/CDS à frente do país após as eleições de outubro de 2015, eis que ela retomou o seu fulgor a propósito dos méritos a atribuir a quem conseguiu retirar o país do Procedimento por Défice Excessivo. Terá sucesso? Será repudiada como exemplo lapidar de fake news? Veremos nos próximos dias!
Tendo como ponto de partida Marcelo Rebelo de Sousa, e logo a rápida subscrição dos partidos das direitas, essa mistificação prossegue ativamente com sucessivos textos na imprensa escrita e nos comentários televisivos. Veja-se a longa efabulação com que Manuel Carvalho hoje a desenvolve numa página inteira do «Público», como se a recuperação não tenha começado com a declaração de inconstitucionalidade dos cortes promovidos pelo governo anterior e a necessidade por este sentida, por descarado calculismo eleitoral, de refrear durante uns meses a sua dinâmica austeritária.
Alguém duvida que, se tivesse conseguido suficiente apoio parlamentar para o governo empossado por Cavaco Silva em 30 de outubro de 2015, os reformados teriam reavido o valor justo das suas pensões, entretanto sujeitas a cortes inadmissíveis? Alguma vez os funcionários públicos teriam recuperado os seus salários? Teria a TAP continuado em mãos nacionais? E as empresas de transporte (Carris, Metro, etc.) já não estariam “concessionadas” a tubarões estrangeiros? E quem é que poria Maria Luís Albuquerque a pagar os buracos nos bancos, que tinha andado a esconder debaixo do tapete? Não estaríamos já “resignados” à imprescindibilidade de passarmos a Caixa Geral dos Depósitos para interesses privados?
Não ! Manifestamente NÃO! Os louros deste sucesso só devem ser atribuídos ao Governo, que mostrou haver alternativa mais competente e eficiente ao austericídio promovido pelas direitas e ao povo português, que sofreu as diatribes conhecidas. Mas, ainda assim, teremos de responsabilizar este último por se ter entregue ao masoquismo coletivo e quase ter aceite, que o martírio continuasse.
Quanto à conhecida reação do sr. Schauble relativamente a Mário Centeno, que o terá elogiado como um Cristiano Ronaldo das Finanças, só podemos desconfiar de tanta «bondade».
Sabemo-lo corresponsável pelas imposições além da troika que as equipas lideradas por Passos Coelho subservientemente acataram. O seu cinismo até poderá iludir uns quantos incautos, e se isso significar juros mais baixos na dívida portuguesa e a revisão em alta do rating da República, só podemos agradecer. Mas adivinhamos que Schauble tenha cruzado os dedos debaixo da mesa, quando proferiu tal enormidade, porque vendo-se ideologicamente derrotado, decerto já estará a pensar no desagravo. O personagem tem revelado ao longo destes anos mais recentes um comportamento, que nos leva a desejar que acompanhe o sr Dijsselbloom - e já agora ambos levem pelo braço o sr. Valdis Dombrovskis - para a reforma. Para muito longe dos centros de decisão europeus para nos não voltarem a atazanar o juízo.
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