domingo, 28 de maio de 2017

O precariado,que substituiu o proletariado

Num programa do canal ARTE vejo uma alemã de esquerda comentar que o presente impasse em que se situa a sua área ideológica é não ter compreendido já não existir o proletariado, mas sim «precariado».
Na época em que as pessoas sentiam um vínculo relativamente estável na situação laboral, criavam sinergias, estabeleciam elos de grande solidariedade, organizavam-se sindicalmente. E, porque as economias do pós-guerra cresciam significativamente tornou-se possível a ascensão social desses antigos operários até patamares da pequena e média burguesia.
O capitalismo foi hábil em criar as condições para tornar cada vez mais difícil essa antiga sensação de segurança. As grandes empresas foram sendo desmanteladas com as privatizações, gerando sucessivos despedimentos coletivos e as pressões para afastar os empregados das suas organizações de classe, transformaram o movimento sindical numa pálida amostra do que chegara a ser.
O precariado tornou-se numa útil ferramenta de dinamitação das solidariedades coletivas. Não foi por acaso que o universo mediático fomentou o individualismo como algo de positivo, empolando a importância de todos sermos únicos, completamente distintos de todos os mais. Entre as falácias mais divulgadas por alguns gurus vigorava a ideia de deixarmos de sermos pessoas mas mercas, que deveríamos gerir como se constituíssemos CEO’s das nossas próprias «carreiras».
Porque se fragilizou essa empatia, baseada nos valores comuns, interiorizou-se a ideia de vivermos numa sociedade em que vigora o princípio de sermos cada um por si e Deus contra todos.
Neste momento histórico faz todo o sentido ver as esquerdas tomarem por objeto fundamental da sua estratégia a cativação dos precários, dando-lhes esperança quanto à possibilidade de virem a conquistar maior segurança quanto ao futuro e demonstrando-lhes como serão mais fortes se se juntarem em plataformas de defesa das respetivas aspirações. É que o futuro das esquerdas reside nos jovens graças aos quais Bernie Sanders, Jeremy Corbyn, Jean-Luc Mélanchon ou Pedro Sanchez conseguiram resultados eleitorais muito apreciáveis nos meses mais recentes. Merecida, ou imerecidamente, todos eles ganharam com a assumpção deste problema como pilar fundamental das suas propostas políticas.
Será bom que as esquerdas em geral não esqueçam tais evidências.

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